Friday, July 21, 2006

Israel não será Refém do Terrorismo


Aaron Ram, Embaixador de Israel em Lisboa

20 de Julho de 2006

Publicado no Correio da Manhã 21.07.06

No Médio Oriente, a luta de Israel é contra as organizações terroristas do Hizbullah no Líbano e do Hamas em Gaza que agem inspiradas, encorajadas e financeiramente patrocinadas por regimes que apoiam as suas actividades, avessos à paz com Israel, num eixo de terrorismo que vai desde Teerão a Damasco.
Ambas as organizações têm ideologias 'jihadistas' extremas, bem expressas nas suas cartas fundadoras, que apelam para a total destruição de Israel.

O Irão oferece um suporte ideológico e prático, ao fornecer ao Hizbullah armas, uma gigantesca ajuda financeira e treino de operacionais. A Síria é o "corredor" daquilo que o Irão fornece ao Hizbullah - mísseis e armamento sofisticado – e também o anfitrião dos líderes dos grupos terroristas (Hamas, Jihad Islâmica), que a partir de Damasco instruem os seus operacionais. Antes da última troca de fogo com Israel, o Hizbullah tinha mais de 13.000 mísseis de curto, médio e longo alcance no seu arsenal.

Na realidade, o Hizbullah é um braço do Irão na região, que tomou como refém o governo libanês e actua como um verdadeiro Estado dentro de um Estado. Esta é a principal razão pela qual o governo libanês ainda não cumpriu a resolução 1559 do Conselho de Segurança das Nações Unidas – esse governo perdeu controlo sobre a parte sul do Líbano porque a milícia do Hizbullah está muito melhor equipada militarmente do que o próprio exército libanês.

Durante anos, Israel, tentando prevenir uma escalada de violência na região, evitou responder de acordo com a sua capacidade militar – sempre que bombardeavam Israel, que suicidas se matavam nos cafés, restaurantes, universidades, autocarros e ruas – Israel respondia atingindo alvos terroristas específicos e não civis, apesar do modus operandi destas duas organizações ser o actuar a partir de áreas populosas, colocando propositadamente em risco a vida da população local, para assim poderem responsabilizar Israel pelos civis atingidos, aos olhos da comunidade internacional.

Israel deixou o Líbano em Maio de 2000, cumprindo na íntegra a resolução 425 do Conselho de Segurança das Nações Unidas – cujos observadores confirmaram a total retirada por parte de Israel de território libanês. Na fronteira norte de Israel, com o Líbano, o Hizbullah continua a ser uma ameaça para a região dado não ter permitido ao governo libanês o seu desmantelamento, evitando que o exército do Líbano estacionasse na zona sul do país, assassinando soldados, civis e bombardeando constantemente Israel com mísseis Katiusha.
Quando terroristas do Hizbullah entraram em território de Israel (12 de Julho), matando oito soldados e raptando outros dois, Israel ripostou. Este foi o pretexto que o Hizbullah utilizou para despoletar o bombardeamento ininterrupto de todo o norte de Israel – cidades, aldeias, kibbutz – entre estas, a terceira maior cidade israelita, Haifa, por forma a matar o maior número possível de cidadãos israelitas.

Há dez meses que Israel retirou de Gaza, sem qualquer intenção de regressar, abrindo uma janela de oportunidade de retomar as negociações de paz entre Israel e a Autoridade Palestiniana. Porém, isso não impediu o Hamas e outros grupos terroristas de continuar a bombardear impunemente as cidades israelitas, violando a integridade territorial de Israel, assassinando civis e tomando como reféns do terror dezenas de milhares de pessoas desde Askelon até o Negev.

Os alvos preferenciais do Hizbullah e do Hamas são civis. Atacam indiscriminada e aleatoriamente com granadas que se desfazem em estilhaços de metal para maximizar as baixas civis. O objectivo de Israel é atingir a infraestrutura do Hizbullah e seus meios – locais de armazenamento de armamento, quartéis-generais, pontes usadas para deslocar-se e transportar material para o sul do Líbano, esconderijos dos terroristas, tanques de petróleo - que na grande maioria das vezes estão inseridos em locais civis, pondo em risco a vida das populações.

De cada vez que o exército de Israel pretende atingir uma infraestrutura terrorista, avisa a população horas antes através de panfletos deixados caír por aviões, acabando, logicamente, por alertar também os próprios terroristas. Israel não quer matar civis. Quer recuperar os soldados raptados em território israelita pelo Hizbullah e ver cumprida a resolução 1559 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que estabelece, entre muitas outras disposições, o desarmamento das milícias do Hizbullah no sul do Líbano e, consequentemente, o estacionamento do exército libanês nessa zona de fronteira com Israel – permitindo ao governo libanês assumir legítimo controlo.

Em Gaza, com o Hamas, o objectivo é recuperar o soldado Gilad Shalit, também ele raptado em território israelita. Israel pretende também impedir os constantes bombardeamentos que há 10 meses, desde a retirada israelita do território têm vindo a aterrorizar a população – as crianças não vão à escola e as pessoas não vão trabalhar porque não sabem quando e onde vão cair os mísseis. Este tipo de bombardeamentos "cegos" são considerados, pela lei internacional, crimes de guerra, uma punição colectiva sobre cidadãos inocentes.

Israel continuará as suas operações até que estes objectivos sejam alcançados. Há que compreender que as organizações terroristas existentes na região, na sua actividade terrorista, não só perturbam a normalidade da vida quotidiana como fazem perigar a estabilidade em toda a área e as legítimas aspirações de todas as partes para um futuro melhor. O interesse em fazer estas organizações cessarem as suas actividades terroristas é, não apenas local, por constituír uma ameaça estratégica para a região, mas internacional.

O sistema usado pelas organizações terroristas é uma longa guerra de atrito com Israel, mas o país não está disposto a deixar-se paralizar, muito simplesmente porque nem sequer tem essa opção. As regras do jogo mudaram. Israel não permitirá que raptem e assassinem impunemente os seus cidadãos. De cada vez que houver uma ameaça, Israel responderá de acordo com a mesma.

Lutamos contra o Hizbullah e não contra o Líbano. Lutamos contra o Hamas e não contra os palestinianos. Contudo, o facto do governo libanês e o líder da Autoridade Palestiniana se oporem a actos terroristas contra Israel, não os desresponsabiliza pelo sucedido e pela sorte dos soldados raptados, quando estes actos são perpetrados a partir dos seus territórios.

O Líbano e a Autoridade Palestiniana são reféns de organizações terroristas. Israel não será refém de ninguém. O Primeiro Ministro de Israel, Ehud Olmert afirmou claramente que a esperança de Israel é que o Líbano e a Autoridade Palestiniana atinjam pelos seus próprios meios uma estabilidade política, livre de forças estrangeiras, para que Israel possa também viver em paz e tranquilidade.