Portugal ficou mais pobre. O passamento de Eduardo Prado Coelho (E.P.C.), no passado dia 25 de Agosto, sábado, deixou um vazio nas letras e na cultura portuguesa que, nos tempos mais próximos, será difícil de preencher.Questionador do mundo, dos acontecimentos e da política, E.P.C. não era, no entanto, a master"s voice. Próximo da esquerda e do Partido Socialista, por vezes com flutuações posicionais e ideológicas, E.P.C. não era, de todo, o tipo de intelectual bajulador, subserviente e serventuário, à espera de umas "migalhas do poder". Na sua secção, O Fio do Horizonte, aqui, no PÚBLICO, E.P.C. deixou-nos uma prosa escorreita, deixou-nos alguns textos belíssimos, sustentados por uma escrita sensível, aberta ao mundo da filosofia, perscrutadora, desassombrada, intimista, que era um deleite para quem (o) lia.Nem sempre concordando com os seus pontos de vista, com o que nos transmitia nos seus textos, principalmente quando enveredava pela análise política stricto sensu, E.P.C. era, apesar de tudo, uma voz independente de esquerda que pensava pela sua própria cabeça (como J. Pacheco Pereira no PSD). Não esqueço a sua tomada de posição crítica face à arrogância e ao autismo do Governo socialista, assim como não esqueço a sua solidariedade para com os professores quando, algumas vezes, censurou a nefasta política educativa introduzida por este ministério, que se reflectiu em acções persecutórias relativamente aos professores tidos como os únicos malfeitores do péssimo aproveitamento dos alunos. Bem como as ineficazes e desajeitadas "aulas de substituição", que E.P.C. não se coibiu de denunciar pela forma desastrada e impositiva como estavam a ser implementadas.Por isso, e por outras razões, intelectuais interventivos e críticos serão sempre "faróis" nesta sociedade portuguesa que, de momento, se vê agrilhoada, politicamente, pelos tiques crescentes de autoritarismo gratuito e pelos crescentes métodos censórios provindos de um partido de Governo que enche a boca e eructa liberdade e tolerância...Portugal ficou mais pobre. Um "farol" acaba de nos deixar.
Wednesday, August 29, 2007
Um "farol" acaba de nos deixar
António Cândido Gavaia
Portugal ficou mais pobre. O passamento de Eduardo Prado Coelho (E.P.C.), no passado dia 25 de Agosto, sábado, deixou um vazio nas letras e na cultura portuguesa que, nos tempos mais próximos, será difícil de preencher.Questionador do mundo, dos acontecimentos e da política, E.P.C. não era, no entanto, a master"s voice. Próximo da esquerda e do Partido Socialista, por vezes com flutuações posicionais e ideológicas, E.P.C. não era, de todo, o tipo de intelectual bajulador, subserviente e serventuário, à espera de umas "migalhas do poder". Na sua secção, O Fio do Horizonte, aqui, no PÚBLICO, E.P.C. deixou-nos uma prosa escorreita, deixou-nos alguns textos belíssimos, sustentados por uma escrita sensível, aberta ao mundo da filosofia, perscrutadora, desassombrada, intimista, que era um deleite para quem (o) lia.Nem sempre concordando com os seus pontos de vista, com o que nos transmitia nos seus textos, principalmente quando enveredava pela análise política stricto sensu, E.P.C. era, apesar de tudo, uma voz independente de esquerda que pensava pela sua própria cabeça (como J. Pacheco Pereira no PSD). Não esqueço a sua tomada de posição crítica face à arrogância e ao autismo do Governo socialista, assim como não esqueço a sua solidariedade para com os professores quando, algumas vezes, censurou a nefasta política educativa introduzida por este ministério, que se reflectiu em acções persecutórias relativamente aos professores tidos como os únicos malfeitores do péssimo aproveitamento dos alunos. Bem como as ineficazes e desajeitadas "aulas de substituição", que E.P.C. não se coibiu de denunciar pela forma desastrada e impositiva como estavam a ser implementadas.Por isso, e por outras razões, intelectuais interventivos e críticos serão sempre "faróis" nesta sociedade portuguesa que, de momento, se vê agrilhoada, politicamente, pelos tiques crescentes de autoritarismo gratuito e pelos crescentes métodos censórios provindos de um partido de Governo que enche a boca e eructa liberdade e tolerância...Portugal ficou mais pobre. Um "farol" acaba de nos deixar.
Vila Real
Portugal ficou mais pobre. O passamento de Eduardo Prado Coelho (E.P.C.), no passado dia 25 de Agosto, sábado, deixou um vazio nas letras e na cultura portuguesa que, nos tempos mais próximos, será difícil de preencher.Questionador do mundo, dos acontecimentos e da política, E.P.C. não era, no entanto, a master"s voice. Próximo da esquerda e do Partido Socialista, por vezes com flutuações posicionais e ideológicas, E.P.C. não era, de todo, o tipo de intelectual bajulador, subserviente e serventuário, à espera de umas "migalhas do poder". Na sua secção, O Fio do Horizonte, aqui, no PÚBLICO, E.P.C. deixou-nos uma prosa escorreita, deixou-nos alguns textos belíssimos, sustentados por uma escrita sensível, aberta ao mundo da filosofia, perscrutadora, desassombrada, intimista, que era um deleite para quem (o) lia.Nem sempre concordando com os seus pontos de vista, com o que nos transmitia nos seus textos, principalmente quando enveredava pela análise política stricto sensu, E.P.C. era, apesar de tudo, uma voz independente de esquerda que pensava pela sua própria cabeça (como J. Pacheco Pereira no PSD). Não esqueço a sua tomada de posição crítica face à arrogância e ao autismo do Governo socialista, assim como não esqueço a sua solidariedade para com os professores quando, algumas vezes, censurou a nefasta política educativa introduzida por este ministério, que se reflectiu em acções persecutórias relativamente aos professores tidos como os únicos malfeitores do péssimo aproveitamento dos alunos. Bem como as ineficazes e desajeitadas "aulas de substituição", que E.P.C. não se coibiu de denunciar pela forma desastrada e impositiva como estavam a ser implementadas.Por isso, e por outras razões, intelectuais interventivos e críticos serão sempre "faróis" nesta sociedade portuguesa que, de momento, se vê agrilhoada, politicamente, pelos tiques crescentes de autoritarismo gratuito e pelos crescentes métodos censórios provindos de um partido de Governo que enche a boca e eructa liberdade e tolerância...Portugal ficou mais pobre. Um "farol" acaba de nos deixar.