Saturday, August 04, 2007
Crime e esperança
Andre Moshe Pereira, Presidente
Kehillah Or Ahayim
Director do Centro de Estudos Israelitas
A Cabala Revisitada XII
Ao Robert Bachmann e à Liz Judith, ao Rav Yochanan Morán
Depois da segunda guerra mundial o historiador Jules Isaac coloca a questão: «Porque assassinaram a minha família?».
Durante todo o resto da sua vida consagrou o seu tempo à busca desta resposta. Refontalizou a génese do anti-semitismo remontando à ensinança do desprezo dos judeus veiculada pela antiga teologia. A militância pelo por ao dia dum ensinamento de estima e foi um dos artesãos da reforma teológica operada no seio católico pelo Concílio Vaticano II.
Leon Poliakov, pela mesma época colocou as mesmas dúvidas que Jules Isaac; «Porque me quiseram matar?». E de todas as formas e com todas as forças consagrou-se a explorar todas as pistas que levassem à origem do anti-semitismo, desde o anti-judaísmo religioso, às variantes antijudaicas do racismo, até ao anti-sionismo arabo-ocidental, a versão contemporânea do ódio aos judeus.
O método de Poliakov aparece sob o seu génio intuitivo que o distingue de certos historiadores e ensaístas que contam as descobertas de outrem. Poliakov não hesita em abrir novas pistas, mesmo ao limite do esoterismo, explorando mesmo as demonologias, as teorias dos complots [foi esquisito saber um dia destes, por fonte fidedigna, que uma Tese de uma doutoranda, ex-assistente da FDUL, tinha sido aprovada, há 3 semanas sensivelmente, resvés, em Lisboa na Universidade Clássica, em Direito, em que defendia a «historicidade» e «autenticidade» dos Protocolos do sábios do Sião! Neles se acusam alarvemente os judeus de sermos responsáveis pelo domínio do mundo,… entre outros despautérios psicanalíticos inenarráveis), os fantasmas do XVIII século sobre a hibridação de raças, onde correm tantos afluentes do ribeiro antisemita.
Poliakov podia também explorar a fundo e fazer evidenciar um pormenor que passa desapercebido aos olhos de outros investigadores e detectives tornando-se precursores de correntes que vieram após o seu trabalho. Consulta um documento sobre a deportação dos judeus de Bordéus. Um comboio não partira por falta de judeus. Num detalhe que revela uma série de ameaças do fabricante do comboio ao seu vendedor ou subcontratado por «mau funcionamento». Paul Giniewsky acrescenta em documentos compulsados por nós, que para os nazis um judeu não era um ser humano. Mas sim um alimento, um vívere. Infeliz de quem se atrevesse a pôr em perigo o ritmo da produção de Auschwitz.
Desde 1949 que os Aliados sabiam tudo sobre a shoah, absolutamente tudo e recusavam-se a querer saber do judeus. Em 17 de Dezembro de 1942 já, as Nações unidas em guerra contra os nazis, publicavam uma declaração oficial descrevendo o detalhe da exterminação dos judeus sobre a ressurgência da Wehrmacht e nos campos de morte da Polónia. Mas ao mesmo tempo, os inimigos do Reich farão esgotar todas as tentativas de permutação de judeus contra mercadorias, dinheiro ou contra cativos alemães. Todas as querelas posteriores em torno da atitude de Pio XII foram seguramente clarificadas, antes mesmo da exploração dos arquivos por algumas palavras de François Mauriac. Em 1951 o “abominável dever daqueles que deixaram a guia ao pescoço dos nazis “sobre o capítulo desses pestíferos” (os judeus) cuidando “poder atenuar outras misérias»”. E na exploração realista da psicologia dos assassinos e das testemunhas, numa leitura que nos faz rememorar de alguma forma as consequências do Relatório Eichmann de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal na ordem de comando do nazismo, Leon Poliakov estabelece numa base documental «que o grande crime organizado da história» pôde cumprir-se por uma pequena minoria de fanáticos, graças à indiferença da maioria, porque os nazis e os seus cúmplices tinham podido massacrar “de maneira a não chocar a sensibilidade” de maneira “discreta, silenciosa, desconhecida”.
Um dia Jacques Derrida escreve, falando com Levinas um dos maiores moralistas judeus do século XX, sobre as suas investigações acerca da morte e do que devia a Heidegger – (muito próximo pensador do nazismo) – no mesmo momento em que se afastava dele, escrevera: [A morte e o tempo - MT] “Distingue-se do pensamento de Heidegger e fá-lo apesar da dívida que todo o pensador contemporâneo tem com Heidegger – uma dívida que com frequência nos pesa -” (MT, p. 8). A boa sorte da nossa dívida com Levinas é de que podemos, graças a ele assumi-la e afirmá-la sem pesar, na inocência entusiástica da admiração, congemina Derrida, e bem, como nós.
Mas regressemos, em que é que a leitura de Leon Poliakov pode permitir hoje uma chave de compreensão do crime nazi, como a foi ontem? O fio que interliga todas as formas de ódio, aos judeus de que Poliakov mostra a persistência do avatares desse mesmo ódio, fazem-nos compreender ainda melhor a natureza e os efeitos do mesmo crime colectivo que está em vias de se cometer contra o Estado judeu (Estado de Israel), em nome do anti-semitismo, pela mão do Irão em parte do Ocidente. Veja-se o caso de Gilad Schalit, Ehud Goldwasser e Eldad Regev e reflicta-se sobre o que escreveu o Sr. Embaixador de Israel, Aaron Ram, em 27 de Julho último no JN: “as famílias de Eldad Regev e Ehud Goldwasser, raptados pelo Hezbollah, do lado israelita da fronteira com o Líbano, têm razões para "invejar" a família Shalit. Afinal, por mais precária que seja a situação em Gaza, pelo menos os Shalit receberam notícias de que o seu filho está vivo. As famílias Regev e Goldwasser não tiveram tanta sorte. Nem um só canal de comunicação foi aberto, nem um só sinal sobre o seu estado. Há um ano que foram raptados e nem uma palavra. De todas as formas, nunca foi permitido o acesso pela Cruz Vermelha (ou outra organização) a nenhum dos três, para avaliar do seu estado de saúde – estes não são apenas casos com contornos de deliberada crueldade, são também inequívocas violações da lei internacional”.
Por isso a Torah nos protege dessa maldade da voz da multidão e nos faz, meditar, pensar: o Smot: Êxodo 23:2 Parashat Mishpatim indica: “lo tihié acharé rabim leraot” não sigas a multidão para fazer atrocidade. Em orjot tzadikim (Shaar haAnavá) aprende-se que quem pretenda superar-se de uma má qualidade não terá que sentir vergonha por isso, como mesmo tampouco sentir-se isolado ou desalentado por que todo o mundo faça o contrário, nem questionar-se de coisas como: “toda a gente tem sucesso e é importante” Para que hei-de apartar-me? O mundo que a eles se lhes depare como vindouro será para mim também…”. É um gravíssimo erro querer assemelhar-se a quem não se quer curar ou corrigir!
Kehillah Or Ahayim
Director do Centro de Estudos Israelitas
A Cabala Revisitada XII
Ao Robert Bachmann e à Liz Judith, ao Rav Yochanan Morán
Depois da segunda guerra mundial o historiador Jules Isaac coloca a questão: «Porque assassinaram a minha família?».
Durante todo o resto da sua vida consagrou o seu tempo à busca desta resposta. Refontalizou a génese do anti-semitismo remontando à ensinança do desprezo dos judeus veiculada pela antiga teologia. A militância pelo por ao dia dum ensinamento de estima e foi um dos artesãos da reforma teológica operada no seio católico pelo Concílio Vaticano II.
Leon Poliakov, pela mesma época colocou as mesmas dúvidas que Jules Isaac; «Porque me quiseram matar?». E de todas as formas e com todas as forças consagrou-se a explorar todas as pistas que levassem à origem do anti-semitismo, desde o anti-judaísmo religioso, às variantes antijudaicas do racismo, até ao anti-sionismo arabo-ocidental, a versão contemporânea do ódio aos judeus.
O método de Poliakov aparece sob o seu génio intuitivo que o distingue de certos historiadores e ensaístas que contam as descobertas de outrem. Poliakov não hesita em abrir novas pistas, mesmo ao limite do esoterismo, explorando mesmo as demonologias, as teorias dos complots [foi esquisito saber um dia destes, por fonte fidedigna, que uma Tese de uma doutoranda, ex-assistente da FDUL, tinha sido aprovada, há 3 semanas sensivelmente, resvés, em Lisboa na Universidade Clássica, em Direito, em que defendia a «historicidade» e «autenticidade» dos Protocolos do sábios do Sião! Neles se acusam alarvemente os judeus de sermos responsáveis pelo domínio do mundo,… entre outros despautérios psicanalíticos inenarráveis), os fantasmas do XVIII século sobre a hibridação de raças, onde correm tantos afluentes do ribeiro antisemita.
Poliakov podia também explorar a fundo e fazer evidenciar um pormenor que passa desapercebido aos olhos de outros investigadores e detectives tornando-se precursores de correntes que vieram após o seu trabalho. Consulta um documento sobre a deportação dos judeus de Bordéus. Um comboio não partira por falta de judeus. Num detalhe que revela uma série de ameaças do fabricante do comboio ao seu vendedor ou subcontratado por «mau funcionamento». Paul Giniewsky acrescenta em documentos compulsados por nós, que para os nazis um judeu não era um ser humano. Mas sim um alimento, um vívere. Infeliz de quem se atrevesse a pôr em perigo o ritmo da produção de Auschwitz.
Desde 1949 que os Aliados sabiam tudo sobre a shoah, absolutamente tudo e recusavam-se a querer saber do judeus. Em 17 de Dezembro de 1942 já, as Nações unidas em guerra contra os nazis, publicavam uma declaração oficial descrevendo o detalhe da exterminação dos judeus sobre a ressurgência da Wehrmacht e nos campos de morte da Polónia. Mas ao mesmo tempo, os inimigos do Reich farão esgotar todas as tentativas de permutação de judeus contra mercadorias, dinheiro ou contra cativos alemães. Todas as querelas posteriores em torno da atitude de Pio XII foram seguramente clarificadas, antes mesmo da exploração dos arquivos por algumas palavras de François Mauriac. Em 1951 o “abominável dever daqueles que deixaram a guia ao pescoço dos nazis “sobre o capítulo desses pestíferos” (os judeus) cuidando “poder atenuar outras misérias»”. E na exploração realista da psicologia dos assassinos e das testemunhas, numa leitura que nos faz rememorar de alguma forma as consequências do Relatório Eichmann de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal na ordem de comando do nazismo, Leon Poliakov estabelece numa base documental «que o grande crime organizado da história» pôde cumprir-se por uma pequena minoria de fanáticos, graças à indiferença da maioria, porque os nazis e os seus cúmplices tinham podido massacrar “de maneira a não chocar a sensibilidade” de maneira “discreta, silenciosa, desconhecida”.
Um dia Jacques Derrida escreve, falando com Levinas um dos maiores moralistas judeus do século XX, sobre as suas investigações acerca da morte e do que devia a Heidegger – (muito próximo pensador do nazismo) – no mesmo momento em que se afastava dele, escrevera: [A morte e o tempo - MT] “Distingue-se do pensamento de Heidegger e fá-lo apesar da dívida que todo o pensador contemporâneo tem com Heidegger – uma dívida que com frequência nos pesa -” (MT, p. 8). A boa sorte da nossa dívida com Levinas é de que podemos, graças a ele assumi-la e afirmá-la sem pesar, na inocência entusiástica da admiração, congemina Derrida, e bem, como nós.
Mas regressemos, em que é que a leitura de Leon Poliakov pode permitir hoje uma chave de compreensão do crime nazi, como a foi ontem? O fio que interliga todas as formas de ódio, aos judeus de que Poliakov mostra a persistência do avatares desse mesmo ódio, fazem-nos compreender ainda melhor a natureza e os efeitos do mesmo crime colectivo que está em vias de se cometer contra o Estado judeu (Estado de Israel), em nome do anti-semitismo, pela mão do Irão em parte do Ocidente. Veja-se o caso de Gilad Schalit, Ehud Goldwasser e Eldad Regev e reflicta-se sobre o que escreveu o Sr. Embaixador de Israel, Aaron Ram, em 27 de Julho último no JN: “as famílias de Eldad Regev e Ehud Goldwasser, raptados pelo Hezbollah, do lado israelita da fronteira com o Líbano, têm razões para "invejar" a família Shalit. Afinal, por mais precária que seja a situação em Gaza, pelo menos os Shalit receberam notícias de que o seu filho está vivo. As famílias Regev e Goldwasser não tiveram tanta sorte. Nem um só canal de comunicação foi aberto, nem um só sinal sobre o seu estado. Há um ano que foram raptados e nem uma palavra. De todas as formas, nunca foi permitido o acesso pela Cruz Vermelha (ou outra organização) a nenhum dos três, para avaliar do seu estado de saúde – estes não são apenas casos com contornos de deliberada crueldade, são também inequívocas violações da lei internacional”.
Por isso a Torah nos protege dessa maldade da voz da multidão e nos faz, meditar, pensar: o Smot: Êxodo 23:2 Parashat Mishpatim indica: “lo tihié acharé rabim leraot” não sigas a multidão para fazer atrocidade. Em orjot tzadikim (Shaar haAnavá) aprende-se que quem pretenda superar-se de uma má qualidade não terá que sentir vergonha por isso, como mesmo tampouco sentir-se isolado ou desalentado por que todo o mundo faça o contrário, nem questionar-se de coisas como: “toda a gente tem sucesso e é importante” Para que hei-de apartar-me? O mundo que a eles se lhes depare como vindouro será para mim também…”. É um gravíssimo erro querer assemelhar-se a quem não se quer curar ou corrigir!