Thursday, July 19, 2007

Reunião de hoje do Quarteto com iniciativa de Bush na agenda

Maria João Guimarães

Condoleezza Rice, Ban Ki-moon, Serguei Lavrov e Tony Blair em Lisboa para discutir o processo de paz israelo-palestiniano

O Quarteto, entidade responsável pelo processo de paz israelo-palestiniano, reúne-se hoje em Lisboa com esperanças de um relançamento de negociações, mas com a cautela ditada pela actual situação no terreno. Entre os factores de optimismo está o novo empenho americano, um encontro recente entre israelitas e palestinianos e um novo enviado do Quarteto com um peso maior do que os seus antecessores.
A reunião de hoje é marcada por duas novidades: é o primeiro encontro do Quarteto (EUA, Rússia, UE e ONU) desde que os palestinianos se dividiram em duas entidades, o Hamas a comandar Gaza e a Fatah na Cisjordânia, e será também a estreia de Tony Blair, o novo enviado especial do grupo, que segue na segunda--feira para a região.
Ontem, em Lisboa, num encontro com o seu homólogo português, Luís Amado, o ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Ahmed Abu Gheit, manifestou esperanças de que sejam lançadas negociações. "Se adiarmos, poremos em risco tudo o que conseguimos na última década", disse. Mas, sublinhou, "é importante que as negociações tenham como objectivo chegar a um acordo final". Até agora as questões espinhosas - estatuto de Jerusalém, fronteiras dos dois estados e o que fazer com os refugiados palestinianos - têm sido evitadas.
Gheit afirmou ainda estar "encorajado" pelo discurso de segunda-feira do Presidente norte-americano, George W. Bush, que pretendeu revitalizar os esforços diplomáticos mencionando uma conferência internacional no Outono. Em Ramallah, o chefe da política externa da UE, Javier Solana, disse que este encontro deverá ser "um passo importante", cita a Reuters.
A Administração Bush quer um sucesso em política externa e por isso há quem admita um empenho renovado neste processo. A agenda da conferência e os participantes ainda não são conhecidos - os olhos estão postos nomeadamente na Arábia Saudita, cuja participação tornaria este encontro mais significativo.
Mas há também quem, como o importante comentador israelita Nahum Barnea, ache que Bush "está cheio de boas intenções, mas que não têm significado".


Actores frágeis

A fragilidade dos principais actores é apontada pelos mais cépticos - o primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, continua a ser visto como o líder que falhou a vitória na guerra do Líbano, e o presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, não tem todo o apoio na frente doméstica, agora dividida entre dois pólos de poder.
A estratégia ocidental é apoiar Abbas em oposição ao Hamas, mas esta linha de acção não é consensual: ainda na terça-feira, o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros Massimo d"Alema alertou para o facto de o Hamas ser "parte significativa e substancial" do povo palestiniano, criticando a posição da UE em relação ao movimento islamista: "não reconhecer um governo eleito democraticamente não é exactamente uma lição em democracia". Questionado sobre que acção tomar em relação ao Hamas, o ministro egípcio afirmou que "se não se conseguir reconciliar as diferenças, a solução é relançar as negociações entre israelitas e palestinianos e fazer depois um referendo". Luís Amado reiterou "o comentário pertinente" de Gheit em relação ao Hamas, recusando que as declarações de D"Alema significassem uma cisão. A UE fica muitas vezes dividida quando o assunto é o Médio Oriente, com países como Espanha ou França a proporem medidas avulsas ou um alto representante que vai visitando a região sem grandes consequências. Outra questão muito discutida, e que estará hoje na agenda do encontro do Quarteto, tem sido o mandato de Tony Blair enquanto enviado especial - para já, restrito à ajuda à reforma das instituições palestinianas e ao desenvolvimento económico. A Europa gostaria de ver Blair mais en-volvido em negociações de paz, Washington quer ter esse papel desempenhado por Condoleezza Rice. "Há sentimentos contraditórios na Administração Bush sobre quanta liberdade deve ter Blair", afirmou à Reuters o antigo analista da CIA Bruce Riedel.
Ontem, Luís Amado afirmou que "o mandato [de Blair] será desenvolvido conforme os desenvolvimentos do próprio processo".
Em declarações ao PÚBLICO, o coordenador da presidência portuguesa para o processo de paz no Médio Oriente, Luís de Almeida Sampaio, sublinhou a existência de um sentimento de "janela de oportunidade" para um avanço no processo. Almeida Sampaio destaca a importância da iniciativa árabe, em que os estados árabes propõem a paz com Israel em troca da devolução do território que o estado hebraico ocupou após 1967. Este envolvimento dos estados árabes marca uma grande diferença em relação aos processos de paz anteriores. Rice vem a Lisboa defender a proposta do Presidente Bush de realizar uma conferência para o Médio Oriente no Outono.