Tuesday, November 07, 2006

Raul Iturra


O Direito é capaz de governar o mundo, mas a lei é desigual para todos: nem todos têm bens e posses para transferir, nem todos têm a inocência que é definida nos códigos. O matrimónio não era monogâmico, era bígamo e sucessivo. O cristianismo organizava a economia. Cansado de tanta contradição aprendida fora das aulas, no terreno no qual praticava o Direito e advogava, Raúl Iturra, orientado por Paulo Freire, transferiu-se para a Antropologia Social e foi estudar com um discípulo de R. Redfield, Francisco Reyes. Passou da Pontifícia Universidade Católica do Chile, na qual era Assistente, para a Estatal Universidade do Chile. Continuou na de Edimburgo, Escócia, a fazer o seu Magister em Antropologia e Ciências da Educação, para se mudar para Cambridge, ainda no Reino Unido. Eleito Allende, Presidente do Chile, tornou ao seu país natal. Na sequência do assassinato do Presidente, foi resgatado pelas mãos dos seus professores e amigos Jack Goody e Meyer Fortes, que o levaram ao Magister e Doutoramento em Antropologia Social na sua Universidade de Cambridge, que o asilou.
Iturra, pela ascendência basca dos seus ancestrais conquistadores do Chile, teve a contrapartida Redondo de sua mãe, de Alicante, solidária com os nativos do Chile. País do qual é parte ainda que à distância.
Aprendeu a sentir a vida que investigava enquanto vivia com os Picunche do Chile, os Galegos de Espanha e os Beirões portugueses, na base dos quais fez teoria que ensinou em vários países. Convidado por Portugal, em 1981, por dois meses, foi ficando como Catedrático do ISCTE, a colaborar na sua criação e a organizar o Departamento de Antropologia.
Pratica a Antropologia Económica, apoiado pelo infinito amigo M. Godelier e a Educação, sobre a qual tem baseada a sua obra escrita em vários textos de muitos países, aulas, orientações de pós-graduação e palestras europeias, latino-americanas e, essencialmente, portuguesas. País que fez desses dois meses, uma raíz de identidade.
Raul Iturra: acaso, sorte e paixãoDescobriu Portugal quase por acaso, salvou-se das prisões de Pinochet por sorte, dedica-se à Antropologia por paixão... O antropólogo Raul Iturra vem explicar o acaso, a paixão e a sorte, esta terça-feira, na conversa ao fim da tarde.

( 19:05 12 de Novembro 02 )
Carlos Vaz Marques
REGISTO AUDIO


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PESSOAL... E TRANSMISSÍVEL
Vasco Graça Moura


poema de combate


indecente rimar, uma criança
a esbugalhar os olhos de pavor.
uma cidade a arder. a governança
do mundo a esquivar-se: a sua dança



rima obscenamente com timor.
indecente rimar. lua assassina.
uma rajada e outra. um estertor.
um uivo, um corpo, um morto em cada esquina.



honra do mundo que se contamina
no arame farpado de timor.
indecente rimar sândalo e vândalo.
sacode a noite apenas o tambor



das sombras acossadas. tens o escândalo
que te invadiu a alma, mas comanda-lo?
onde te leva o grito por timor?
indecente rimar pois também rimam



temor, tremor, terror e invasor
por mais hipocrisias que se exprimam
enquanto de hora a hora se dizimam
os restos do que resta de timor.



indecente rimar: mas nas florestas
nunca rimaram tanta raiva e dor
a às vezes são precisas rimas destas,
bumerangue de sangue com arestas
da própria carne viva de timor.



Vasco Graça Moura