Rab. Shlomó Wahnón
Livro Bereshit / Genesis 25:19 al 28:9
25 de Novembro de 2006 - 4 de Kislev 5767
Resumo da Parashá
A parashá desta semana tem início com a recordação de que nos primeiros vinte anos de casados, Itzchak e Rivká não tiveram filhos. Depois de terem rezado ao Todopoderoso, Ele abençoou-os e posteriormente tiveram gémeos; Yaacov e Esav. Esav era o mais velho e mais forte e dedicou-se às tarefas do campo, tendo sido caçador, enquanto que Yaacov foi um grande estudioso da Torá. Esav foi o filho preferido de Itzchak, enquanto Yaacov foi preferido de sua mãe.
Numa certa ocasião, Esav voltou muito cansado dos seus trabalhos no campo e viu que Yaacov estava a cozinhar lentilhas vermelhas, foi então que Esav pediu ao seu irmão que lhe desse rapidamente do seu guisado. Yaaccov disse-lhe que em troca da comida lhe vendesse a sua primogenitura, já que Esav não demonstrava qualquer interesse nela e assim, ao comer e beber desprezou os seus direitos de primeiro filho.
Tinha começado uma época de fome que obrigou Itzchak a mudar-se para Guerar, para as terras do Rei Avimelech. Aí lhe apareceu o Eterno para lhe confirmar a promessa que já tinha feito a seu pai, que a sua descendência seria tão numerosa como as estrelas do céu e que receberiam a terra de Canaã como herança.
Tal como seu pai fez, Itzchak disse aos habitantes de Guerar que Rivká era a sua irmã, até que o próprio Avimelech descobriu que não era e ordenou que ninguém causasse dano algum a Itzchak ou à sua esposa. Itzchak prosperou e foi invejado pela gente de Guerar, pelo que Avimelech lhe pediu que abandonasse a região.
Itzchak apressou-se para ir para Beer Sheva onde foi visitado por Avimelech e este ao ver que Itzchak era uma pessoa agraciada pelo Eterno, concordou assinar com ele um tratado de paz. Entretanto Esav casou-se com duas mulheres hititas.
Itzchak era já ancião, tinha perdido a vista e sentia que devia bendizer o seu filho mais velho. Por isso pediu a Esav que fosse ao campo a caçar e que depois cozinhasse uma comida saborosa que depois o bendiria. Rivka ouviu a conversa e decidiu que Yaacov vestisse as roupas de Esav, cobrindo as suas mãos e o seu pescoço com pele de cabra para que aparentasse o seu irmão mais velho. Preparou uma comida e enviou Itzchak para seu pai Yaacov. A princípio, Yaacov duvidou de quem se apresentava, se era o seu filho Esav ou não mas após sentir as suas mãos aveludadas, tranquilizou-se. Depois Itzchak pediu a seu filho que se aproximasse, beijou-o e abençoou-o.
Esav chegou da sua caça e preparou comida para seu pai e aproximou-se dele para receber a benção que lhe correspondia. Mas logo Itzchak descobriu que fora Yaacov quem tinha recebido a sua bênção primeiro. Bendisse-o predizendo que os seus descendentes viveriam pela espada e serviriam os descendentes de Yaacov. A partir deste momento e devido também a este acontecimento, Esav passou a odiar Yaacov e planeou matá-lo quando seu pai morresse. Rivká conhecedora de toda situação, enviou Yaacov para Charan, para a casa de seu irmão Labão até que a ira de Esav passasse. Itzchak bendisse novamente Yaacov para que as bençãos de Avraham se cumprissem entre ele e os seus descendentes e viessem assim herdar a terra de Canaã. Também lhe ordenou que não tomasse para esposa as filhas dos cananitas e que apenas o fizesse de Padan Aram, entres as filhas de Laban. Esav compreendeu que as filhas de Canaã eram más perante os olhos de Itzchac e decidiu tomar outra mulher, Machalat filha de Ismael, filho de Avraham.
Comentário sobre a Parashá
“E Itzchak rogou ao Eterno ...” (Bereshit: 25.21)
“...E Itzchak e sua esposa pediram ao Eterno, pois ela era estéril e o Eterno aceitou as suas preces e Rivká, sua mulher concebeu”. Neste pequeno relato da Torá e através das orações de Itzchak e Rivká, podemos aprender muitos princípios sobre a importância e as regras da reza.
Conceitos como: “Não se compara a reza do necessitado com aquele que não se encontra necessitado”, “Todo aquele que pede pelo seu companheiro, Hashem responde primeiro às suas necessidades.”, “Em todo o lugar onde me implores, chegarei e responder-te-ei”, “Não se compara a reza de um justo, cuja procedência são os tzadikim, com a petição de um justo de procedência duvidosa.”
É através do estudo das rezas dos nossos antepassados que poderemos entender os conceitos da Halakhá. Toda a pessoa deve guiar-se por intermédio das Tefilot, implorar ao Todopoderoso as suas necessidades e nunca desesperar-se perante qualquer situação por mais complexa e difícil que seja. O Rei Hizkiyahu criticou bastante o profeta Yeshayahu, quando este foi enviado por Hashem para anunciar-lhe o seu rápido falecimento, ao que o Rei Hizkiyahu, homem temente de Hashem e grande estudioso da Torá perguntou ao profeta qual o motivo de tal ditame, ao que o profeta lhe respondeu, por não ter casado e não ter desejado descendência. O Rei comentou-lhe que tinha decidido não casar-se para não ter filhos já que lhe tinha sido anunciado no seu “Ruach Hakodesh” que a sua descendência não seguiria os caminhos da Torá. A isto o profeta responde: ”...e nas contas de Hashem quem te manda indagar? Deverias ter cumprido a tua obrigação e o que Hashem dispõe não é da tua conta:” Depois de reconhecer o equívoco, pediu para casar-se com a filha do profeta mas este negou-lha , assinalando-lhe que: “Hashem não é um ser humano para arrepender-se”. O rei pediu-lhe que terminasse a sua mensagem e saísse da sua presença, pois já tinha reconhecido o seu erro. “Assim nos ensinam os nossos antepassados: ainda que tenhamos uma espada ao pescoço não devemos desespear-nos pelas desgraças.”
Disseram os nossos Sábios que: a reza, o arrependimento e a tzedaká têm o poder de abolir todo e qualquer ditame e assim recitam os tzadikim nas rezas de Rosh Hashaná e Yom Kipur. A Torá comenta-nos a gravidez de Rikvá e diz-nos: “E pugnam os seus filhos dentro dela”. E ela afirma: “Se é assim, porque é que me acontece isto? E consultou o Eterno”. O Midrash conta-nos que a problemática de Rivká começou quando ao passar pelo Beit Hamidrash de Torá de Sem e Ebed, sentia que o feto queria sair e alegrava-se muito mas acontecia que, quando passava próximo dos templos de idolatria sentia que também desejava sair pelo que ficou confusa. Como é que um feto não tinha as suas inclinações definidas? Ela sabia que o Todopoderoso cria as criaturas com inclinações bem definidas, quem vai ser Tzadik e quem vai ser perverso e a todos nos deu a Torá como meio para podermos sobrepor-nos às nossas inclinações naturais, tal como foi dito: “Criei-te com más inclinações (Yetzer Hará) mas dei-te a Torá como remédio (Torá Tablin)”. Mas Rivká não conseguia entender como podia um mesmo feto estar atraído ao mesmo tempo pelo bem e pelo mal, pelo correcto e pelo errado, até que Hashem lhe mostrou que tinha gémeos no seu ventre e isto tranquilizou-a mais.
Como pôde Rivká tranquilizar-se sabendo que o seu filho não era um medíocre senão que, engendraria dos filhos, um deles com tendências idólatras? Rivká sabia que até o idólatra tem a opção de corrigir o seu caminho e voltar à Torá mas quem está confuso e não sabe o que quer da vida, nunca poderá estar consciente da sua situação e portanto não poderá corrigir-se. Encontramo-lo na Hagadá de Pessach, quando dizemos: “Como é que a Torá falou de quatro filhos: Chacham, Tam, Eno Yodea Lishol (o Sábio, o Perverso, o Ingénuo e aquele que Não Sabe Perguntar)”. Sabendo que a Torá dá uma grande importância à ordem das coisas e às afirmações dos nossos Sábios, como é os nossos Sábios puderam colocar o perverso em segundo lugar, antes do Tam e do Desconhecedor, estão longe de poder chegar a ter as capacidades do Sábio. Rivká sofria porque pensava que estava grávida de um menino indeciso, que não sabia diferenciar o bem do mal, a verdade da mentira e esse é o motivo porque os nossos Sábios contemporâneos viram nos movimentos judaicos como conservador, reformista, neo-reformista e quem sabe quantos grupos mais poderíamos encontrar no “lego” do nosso povo. Trata-se de um perigo muito maior que o liberalismo, pois este não tenta interpretar erroneamente a Torá segundo interesses ou necessidades, senão que, simplesmente não lhe interessa e o dia em que tiver interesse ou necessidade em conhecê-lo, não será influenciado por falsidades provocadas por interesses ou necessidades, não porque a Torá não permita a discussão ou o pluralismo de ideias, pelo contrário, toda a nossa tradição e Torá se baseiam na diversidade de opiniões mas com uma condição fundamental: as opiniões têm que estar baseadas no conhecimento e na integridade. Milhões de comentários, estudos e polémicas têm acompanhado cada letra e palavra da Torá mas cada uma das imposições, limitações ou costumes rabínicos que se foram definindo ao longo da história do nosso povo não podem ser apagadas ou renegadas com a desculpa de que o mundo mudou.”O Shabat guardou mais o Povo de Israel, que o Povo de Israel guardou o Shabat”.
Shabat Shalom