Saturday, June 16, 2007

A Cabala Revisitada V: Ciência e Fé

Andre Moshe Pereira
Presidente Or Ahayim
Director CEIMOM
( Centro de Estudos Israel Médio Oriente e Mediterrâneo)


Cada coisa é um fenómeno em si mesmo um mundo de si e em si. Cada coisa tem ainda segundo por ex. Y F, uma relação com cada coisa, ambas próximas e afastadas, por degraus.
O exemplo que nos ocorre é o duma ervilha na vagem. Cada uma tem as suas próprias dimensões, um carácter que lhe é próprio, uma história única um destino pessoal e cada uma tem uma relação distintiva especial a cada uma das outras como bem a tudo o que está fora desta esfera. O mesmo é válido para cada uma das outras ervilhas. Esta relação de proximidade e afastamento estende-se de forma universal e conveniente a cada um dos elementos únicos do universo.

Ora o que se diz de cada ervilha ou vagem é bom de ver que se diz de cada um de nós. Nós temos na verdade dimensões distintas, caracteres, histórias, destinos e relações. Como sabemos da psicologia narrativa ou da antropologia vamos mais profundamente e mais longe. No caso da epistemologia baste recordar as duas fontes nas quais mais beberam os teóricos pós-modernos da Psicologia foram as obras de Thomas Kuhn e Paul Feyerabend. Kuhn é o filósofo da ciência que popularizou o conceito de paradigma. Ele oferece contra o falsificacionismo de Popper a sua visão própria sobre o progresso científico, que teria como princípio central a revolução científica. Para Kuhn (1991), a revolução científica é a substituição de um paradigma que, tendo acumulado um número de anomalias suficientes, gerou as condições necessárias para o surgimento de um novo paradigma que o substitua dando conta dessas anomalias. É um momento de evolução não-linear da história da ciência. A tese do pensamento de Kuhn (1991) que foi apropriada pelos teóricos pós-modernos é a tese da incomensurabilidade dos paradigmas, revisitado por exemplo em Rhétoriques de la modernité de Manuel Maria Carrilho, no Tratado da Evidência e nas Provas de Fernando Gil. Paradigmas, segundo Kuhn, são aquele conjunto de conquistas científicas universalmente reconhecidas e pressupostos universalmente compartilhados sobre o método científico, que durante um período fornecem um modelo de problemas e soluções aceitáveis aos que pesquisam um certo campo da ciência. A sua substituição por outro ocorre no momento do conflito entre dois paradigmas concorrentes. Neste momento os seus respectivos partidários defendem-no com base em argumentos extraídos do próprio paradigma. Ou seja, aqui cairíamos inevitavelmente numa circularidade, pois tomaríamos como pressupostos os princípios do próprio paradigma em sua defesa. Para Kuhn, paradigmas sucessivos dizem coisas diferentes acerca do universo e dos seus objectos, eles são ontologicamente irredutíveis um ao outro, eles são incomensuráveis. Isso quer dizer que para Kuhn, nas revoluções científicas as mudanças de paradigma não são realizadas com fundamento na racionalidade interna do sistema científico. Esta perspectiva induz de forma mínima à percepção da natureza elementar da nossa disposição ontológica e crítica.
Em que se prendem determinadas convicções científicas como as vemos em João Caraça e M. Maria Carrilho? No seguinte: A previsão é o fim da ciência; Uma teoria só tem que ser verdadeira nas suas consequências observáveis; É a experimentação que garante a objectividade; Uma teoria só é falsa se uma das suas consequências experimentais for falsa; A introspecção deve ser rejeitada; Só a matemática garante a cientificidade; O contexto de descoberta de uma teoria é irrelevante; A metodologia deve demarcar o que é ciência do que não é e, assim, distinguir claramente dois tipos de juízo: de valor e de facto; Só há explicação científica quando há subsunção de um fenómeno numa lei; A competência do cientista deve ser rigorosamente acantonada no seu domínio.
É fácil identificar nestes "mandamentos" as bases do cientismo a que o positivismo deu várias formas consagradas, e que foram criticadas, num crescendo de pertinência, por Popper (1959), Kuhn (1962) e Feyerabend (1975). McCloskey desenvolve uma ideia original, que certamente Feyerabend - e mesmo Kuhn como explicitámos acima - não rejeitaria, e que consiste em perspectivar a ciência como um processo conversacional em que os interlocutores mobilizam os mais diversos recursos retóricos com o objectivo de persuadirem e de fazerem vingar o seu ponto de vista.
Para nós admitimos que temos uma vida interior; as nossas relações e coisas com as outras pessoas estão supostas sobre muitos e muitos factores. As relações humanas são complexas e retorcidas ou por vezes ínvias; todavia continuamos a existir de muitas maneiras ou modos. E dimensões quando vivemos e deixamos esta mesma dimensão.
Mas isso vai para além de tudo. Porque existem reinos e dimensões distantes da nossa natureza puramente física que se prevêem com grande profundidade que estão assentes para além dos domínios distantes e que de igual modo possuem distintas qualidades, histórias e papéis a jogar num grande e vasto teatro cósmico. Tudo foi criado, parece-me. Por Quem tem poder e Desejo infinito.
Como expressa Ramchal as coisas foram criadas por Hashem na sua infinita capacidade … a deliberação por criar outros seres que são superiores a outros e cada ser físico foi deliberado ter os seus limites e propriedades E foi garantida a existência às entidades superiores uma espécie de propriedades particulares e específicas. E foi justo que lhe conferisse tais qualidades.
O problema é que acreditar na unicidade espiritual e ontológica no reino espiritual e na ideia de que tudo interage com tudo está profundamente inculcado em nós iehudim. E assumindo que o todo está fisicamente isolado e que as coisas não são apenas uma máscara da realidade, de destino e um papel a desempenhar no todo é simplesmente um anátema para nós só de imaginar essa “realidade” isolada.