Wednesday, November 16, 2005

Sentidos








André Veríssimo

Procuramos um espaço alternativo para a realização das nossas orações/celebração de Shabat e não temos qualidade financeira no curto ou médio prazo para revitalizarmos esta actividade. É verdade que por vezes regressamos à amada Mékhor Hayim, mas sentimo-nos compelidos a não nos vermos ( esse olhar do outro...) ontologicamente judeus. E como isso é a nossa alma e o nosso espírito e a nossa carne (Neshamah) somos de parecer que precisamos de um espaço, que o que possuímos está grandemente virado para as actividades culturais de signo judaico.

A Comunidade de Belmonte é uma comunidade endógena quer do ponto de vista sociológico-familiar e rabínico, quer do ponto de vista da identidade cultural e de interesse por manifestações exteriores a sociedade judaica prototípica, cuja integração foi feita globalmente há uns anos pelo retorno colectivo com a ajuda espiritual do Rabi Josef Sebagg. Os anussim têm uma história de profusão e disparidade que levaria longamente a explicitar na linha do que já fizeram Elvira Mea e Inácio Steinhardt, Beth Rendall ou Antonieta Garcia têm uma história de sofrimento idêntica mas menos cônscia da sua identidade dada a parca generosidade de elementos genealógicos, ou de prática ritual, ou de pura dispersão face à origem, imperando a assimilação ou o ecletismo simbólico. São fruto duma ascendência difusa mas estão por inteiro conotados à maioria dos costumes gentios, com sincretismos que lembram somente aquando dos símbolos ( acendimento de velas, recusa de participação em actos religiosos católicos ou dissimulação/ escondimento de crença - ainda um pouco temente pela vigília constante dos outros em relação aos sinais exteriores, nossos ).

Existem textos significativos acerca do conflito ou coalescência simbólica face às comunidades e uma suma prodigiosa de artigos sobre a ambiguidade da Identidade: um ou outro estudo mais douto de Antonieta Garcia, de Esther Mucznick, de Amílcar Paulo, etc. , sobre as comunidades marranas das Beiras que esperamos que sedimentem melhor o olhar sobre um fenómeno redivivo e sempre fecundo – porque diz respeito à memória e à vida presente: afinal à nossa Neshamah ou ao sentido de íntima conversão a que o Rei David nos chama nos seus Cânticos.