Sunday, September 02, 2007

O olhar por detrás do texto


André Moshe Pereira
presidente Kehillah Or Ahayim,
Director Ceimom

Ao grande Raul Hilberg na sua morte aos 81 anos
A EPC

[aos que agora vivem o seu guiur perto de Haifa e sairam de Viseu ou redondezas]

Nota de abertura: Caro leitor, hoje mudamos com a devida permissão, a tonalidade semanal da nossa colaboração n’OPJ para tópicos do hodiernismo. Queremos com esta rubrica fazer um apelo a que os temas judaicos poderão ser seguidos no web-blog da «nossa» comunidade judaica Luz da Vida no Porto, no link abaixo indicado. Continuaremos, BS’’H com a nossa rubrica A Cabala Revisitada no caderno cultural Das Artes e das Letras, assim pensamos, suplemento de elevado valor cultural de OPJ, que a todos consola multidimensionalmente.

1. Os temas ligados ao movimento da responsabilidade e do olhar social não são novos. A diferença é que agora as televisões vão ter que praticá-los, se quiserem focar a sustentabilidade dos argumentos. Um estudo sobre a ética, a transparência e a responsabilidade social política: o que representam, as suas interacções e quais as suas importâncias e contribuições no movimento social e do estado.
Devemos estar vigilantes como sempre o esteve Mérleau-Ponty por exemplo em Homem e a adversidade e a política paranóide. Não se trata de defender incondicionalmente a cultura do olhar, nem mais nem menos mas apenas de entender que a distinção entre percepção e erro não é uma página volvida, que não deixa lugar nem para apocalípticos, nem para integrados. Em nenhum momento, devemos sem deliberação exaustiva tomar partido de apocalípticos ou integrados, mas oferece uma análise livre de preconceitos, que, no fim, nos sugere alternativas para o que chama de uma utilização valorativa dos meios de comunicação e análise social.
O que significa a ética do olhar neste contexto? Ana Hatherly autora de dois excelentes poemas visuais (O corpo como suporte, pp.50-51) informa-nos “quando Appolinaire, nos seus Calligrames de 1918, fala da querela que sempre houve entre tradição e invenção e entre ordem e aventura, ilustra claramente o debate que há muito se desenrola entre sucessivas gerações, tanto em termos éticos como estéticos, ditado por uma necessidade cíclica de renovação dos valores vigentes, que os chamados novos assumem como sua tarefa”. (Imaginários de Ruptura - Poéticas Visuais, Piaget, 2002, p. 9). O para além da imersão das imagens importa-nos referir o mundo político dos sobreviventes dos partidos e da sua historiografia. O caso da ética celebrada por Hilberg foi a dos executores não a das vítimas. Da política como do resto é necessária a visão de conjunto por isso a metáfora do olho parece apropriada.
Outra coisa que nos parece óbvia é que a política não é algo estável mas um processo de olhar. Como na ética da catástrofe de Raul Hilberg: "A destruição dos judeus era um fenómeno sem precedentes" e por isso, antes de perguntar "porquê", era necessário estudar a sua lógica e os mecanismos. É a partir daqui que se pode pensar, na plenitude, a dimensão ética da catástrofe”- Perpretators Victims Bystanders (1992)

2. A catástrofe que é ser português sem Portugal, por exemplo. Sem Governo que se preze desde os assuntos parlamentares (o ministro “Etar” (metáfora jornalismo de sarjeta é clarificadora; com a consequente redução do espaço público e ao condicionamento autoritário e de circulação de ideias, valores, e informação livre) à cultura institucional do Ministério (inexistente). Onde está a homenagem devida eticamente a Torga? Da cultura à educação não-superior com os piores exemplos de prática de destruição da criatividade e liberdade educacional desde o 25A, com professores altamente profissionalizados sem emprego e com horário zero deslocados em 48 horas do seu lar para outras paragens como «missionários» e só 3252 professores obtiveram agora um horário completo; 44.725 não conseguiram lugar. Ou estão nas escolas contra toda a sua formação específica feitos amas-secas de escola-berçário. Como profetiza Vasco Pulido Valente, num contexto proximal, na sua crónica habitual num Diário em (Quem protesta demais…de 17.08.2007): -- temos de ter paciência com estes restos de marxismo que apodrecem no meio de nós.

3. Mas o que a metáfora do olho pode dizer-nos neste Portugal?
No blogspot pitanga madura percebemos o olhar clínico do “brilho do olhar e simplicidade no sorriso e imatura ilusão de quem vê hasteada a bandeira em Osaka (Nelson Évora) a que são votados os nossos atletas sem os milhões de ganho dos senhores do esférico.
Outro olhar nos revela Pedro Mexia, quando em edição do Público, p.p. nos contabiliza as dezenas de literatura essencial que estribada na estrutura teórico literária-filosófica o EPC nos deixou. Parece que desvelou o hermetismo de autores (Gabriela Llansol) e os tornou acessíveis a mortais. O ritmo da fala falante e da escrita visionária como a de Ana Hatherly, ou mesmo EPC (com concessões), ou Miguel Torga e Herberto Hélder ou J. Fragata, Cristina Beckert e Josué Pinharanda Gomes, Lobo Antunes, Silvina Rodrigues Lopes, Eduardo Lourenço, António Damásio, Luiz Fernando Veríssimo, Piero Cecucci, Sylvia Moretzsohn, António Tabucchi, Massaud Moisés, etc. são ainda assim raros em português.

O olhar da ciência: a definição e dinâmica da revolução industrial das concentrações tecnológicas. As tremendas a abruptas transições da tecnologia na área da navegação segundo Sandro Mendonça, Professor do Depº de Economia, ISCTE. SPRU, University of Sussex acrescenta: “Um roteiro para navegar nestas tempestades do futuro é o olhar crítico sobre o que de facto aconteceu no passado, e felizmente este recurso já está disponível desde há poucos anos: A.J. Arnold (2000), "Iron Shipbuilding on the Thames", 1832-1915, Ashgate”.

E no olhar jornalístico de Vítor José Malheiros no Público de 28/08/2007: “A primeira característica de Eduardo Prado Coelho que salta aos olhos é (…) que passeia com naturalidade da antiguidade clássica à cultura pop, um interesse, e mesmo uma avidez, que vai da esfera do pensamento filosófico aos novos media, da televisão à antropologia, da ciência à poesia, do cinema ao futebol, do teatro à política, das artes plásticas à dança e à música, da moda à arquitectura. Cremos que o olhar é o sinal para descobrir esta vida em torno do que se esconde na psicologia e no fazer humanos”. EPC um outro olhar das profundidades do todo e um construtor da dádiva intelectual numa escrita minuciosa, completa e trans-subjectiva.
Tudo o que desejamos da vida é luz (energia).

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* (Professor e investigador Universitário, Presidente da Direcção Or Ahayim, escritor)