[7 de Fevereiro de 2009/ 13 de Shevat de 5769]
“Eu prometo a você, minha pequena menina, que esta será a última guerra.” Este é o refrão de uma das canções mais cantadas e choradas após a Guerra do Iom Kipur, em 1973. Na minha adolescência no movimento juvenil sionista, os versos de Hamilchamá Haacharoná (A Última Guerra), do poeta israelense Chaim Chefer, traduziam a nossa esperança na paz. Por outro lado, em nome dos soldados mortos, estes mesmo versos nos advertiam: Não sejamos ingênuos. É preciso estar preparado para lutar. Mal sabíamos que ainda iríamos viver tantos outros conflitos: duas invasões ao Líbano, duas intifadas (levantes palestinos) e agora, a guerra contra o Hamas.
Assim como o poeta, o profeta Isaías também já prometera um dia em que veríamos a última guerra. Depois disso, os povos “converterão suas espadas em arados e suas lanças em foices... e não aprenderão mais a arte da guerra.” (Isaías 2:4) Neste prenúncio da era messiânica, segundo o profeta, haverá paz onde antes era inconcebível de se imaginar, onde até “o lobo habitará com o cordeiro” (Isaías 11:6). Por outro lado, o cineasta e escritor Woody Allen, em um típico humor judaico, troca as personagens e comenta: “O leão habitará com o bezerro, mas o bezerro não conseguirá dormir direito.”
A parashá desta semana nos conta que quando o povo de Israel deixou o Egito, após gerações e gerações de escravidão, Deus fez com que não seguissem pela terra dos filisteus. Por que não? Afinal de contas, se seguissem por lá em linha reta, em apenas dez dias chegariam à Terra Prometida! “Para que, ao ver a guerra, o povo não se arrependa e retorne ao Egito.” (Êxodo 13:17) Deus parecia desejar que nossos antepassados não sofressem mais e os fez seguir por um caminho mais longo em meio ao deserto, pelo Mar Vermelho – tudo para evitar mais uma guerra. Ao mesmo tempo, os israelitas saíram do Egito armados. Tudo o que eles desejavam era chegar logo em casa, com suas famílias, bezerros e cordeiros, e iniciarem uma vida de liberdade e paz na Terra de Israel. Mas assim como Woody Allen, sabiam que não podiam ser ingênuos.
Pelo caminho mais longo, para evitar a guerra, dez dias se tornaram quarenta anos no deserto. Mesmo assim, quando chegamos a Israel, tivemos que lutar. Mais de três mil anos depois, em 1948, lemos na Declaração de Independência do Estado de Israel, na voz de Ben Gurion: “(...) Impelidos por sua ligação histórica e de tradições, judeus lutaram geração após geração para se restabelecerem em sua antiga terra natal. Nas décadas recentes, eles voltaram em massa... fizeram o deserto florescer, reavivaram a língua hebraica, construíram vilarejos e pequenas cidades..., adorando a paz, mas sabendo como se defender.” Novamente trilhamos o caminho mais longo para evitarmos a guerra, mas por via das dúvidas, viemos armados.
Permanece a esperança, desde os tempos de Moisés, passando por Isaías, Ben Gurion e chegando a 2009: “Eu prometo a você, minha pequena menina, que esta será a última guerra.” Há de chegar o dia em que Israel habitará lado a lado com seus vizinhos e que todos nós possamos, finalmente, dormir em paz.
Shabat shalom e Chag Tu B´Shevat sameach!
Uri Lam, de Jerusalém