Sunday, November 18, 2007

A TSEDACÁ NA PRÁTICA

RABINO KALMAN PACKOUZ
Nosso querido assistente

Recebi um email do presidente de uma sinagoga que estava chateado por que um generoso doador do último Yom Kipur ficou ofendido por não lhe terem agradecido. Desabafou o presidente: "A caridade não é feita em antecipação por agradecimentos e reconhecimento".
Gostaria de compartilhar com vocês, queridos leitores, minha resposta a este presidente e também algumas considerações sobre dar dinheiro para caridade .
Existem diferentes níveis de caridade e diferentes motivações Tanto o doador como o(s) recebedor(es) tem obrigações e oportunidades. Sim, se fôssemos todos perfeitos, daríamos anonimamente para as causas mais importantes, sem a necessidade de ninguém ficar sabendo ou vir nos agradecer. Entretanto, mesmo que este doador já tenha chegado a este alto nível de espiritualidade, isto não isenta o recipiente de sua obrigação de ser grato e expressar sua gratidão ao seu benfeitor.


O PRESIDENTE: "Se dermos um agradecimento especial a este homem, como será com o pobre congregante que juntou até o seu último centavo para fazer uma doação de dez reais?"
Ele também deve receber um agradecimento. Talvez o senhor esteja querendo dizer que devido ao grande sacrifício daquele congregante pobre para doar, ele mereça um agradecimento ainda maior. Pode ser que o senhor esteja certo. Porém, deixemos para o Todo-Poderoso saber o que se passa nos corações das pessoas e por que elas fazem o que fazem. Em relação a nós, é nossa incumbência expressar gratidão a todos os que nos beneficiam, intencionalmente ou não. No final das contas, é ao Todo-Poderoso que devemos agradecer e reconhecer Sua grande bondade. Se ainda não reconhecemos o bem que os outros nos fazem, então tenho grandes suspeitas de que estamos em falta em nossa apreciação pelas bondades que o Criador nos faz, também.


O PRESIDENTE: "A verdadeira forma de Tsedacá é dar anonimamente. Estamos errados em não agradecer a cada membro da sinagoga que contribuiu em Yom Kipur ?"
Creio que todos merecem um agradecimento, pois também estão ajudando. Também penso que aqueles que não agradecem então perdendo uma oportunidade, da mesma forma que aqueles que podem dar e não o fazem então perdendo uma grande oportunidade.
Num mundo ideal, talvez a pessoa rica não precisasse ser agradecida. Entretanto, ao necessitar de suas doações, talvez o senhor deva reconsiderar sua estratégia de arrecadação... (final de minha resposta).


Alguns pontos adicionais sobre Tsedacá:
A palavra hebraica 'Tsedacá’ é comumente traduzida como 'caridade’ ou 'dízimo’, porém é uma definição equivocada. 'Caridade’ implica que o nosso coração nos motiva a irmos além do que o dever nos exige. 'Tsedacá’, entretanto, literalmente significa 'justiça’, fazer a coisa certa. Um 'Tsadic’, da mesma forma, é uma pessoa íntegra, que cumpre todas as suas obrigações, independente de seu humor naquele momento.
A Torá nos traz o seguinte versículo (Devarim (Deuteronômio) 16:20): "Justiça, justiça, vocês devem almejar". Existe uma responsabilidade humana básica de estendermos a mão aos demais. Dar de nosso tempo ou dinheiro é uma declaração de que 'Farei o que for possível para ajudar!’. Este é o conceito Judaico de Tikun Olam - ajudar a reparar e melhorar o mundo em que vivemos.
A Torá recomenda darmos 10 por cento de nossos rendimentos (daí a popular expressão 'dizimo’, significando 'um décimo’). A fonte original está em Deuteronômio (Devarim) 14:22 e a Torá está repleta de exemplos. Eis alguns: nosso patriarca Avraham deu um décimo de suas posses ao sacerdote Malkitsedek (Gênesis (Bereshit) 14:20) e o mandamento de se dar dízimos para sustentar os Levitas (Números (Bamidbar) 18:21-24) e os carentes (Deuteronômio (Devarim) 26:12).

Postagem: Andre Moshe Pereira, Koah