Sunday, November 18, 2007
Pensando em Vós e no que somos
André Moshe Pereira
Presidente Kehillah Or Ahayim
Eli Eliahu anvi ar’ena Eli Eliahu por estas casas vengas
Bo irdom ikhvod, Nefech yétivo, Lo chahav libo, Gam lo raa chéna
Ao contrário da maior parte dos filósofos do Ocidente a filosofia levinasiana diverge, dos termos fundamento e origem que estão associados e constituíram uma espécie de prisão. O pensamento cárcere que existe na linguagem do ser e do conhecimento; um discurso dos entes que os mostra como presentes, e um discurso do que é e pode ser conhecido acerca deles. Não despreza tal discurso, considera-o mesmo indispensável à justiça mas considera-o inadequado à tarefa de desvelar o momento da ética. O momento ético, escreve Levinas, “não está fundado na estrutura preliminar do pensamento teorético, na linguagem ou em qualquer linguagem particular” (Levinas 1996:148). Como ele mesmo reconhece, Levinas deve muito ao pensamento da juventude de Heidegger, especialmente Ser e Tempo que Levinas considera um dos maiores livros da história da Filosofia (1988:225). Mas como sabemos quer Heidegger que os outros filósofos da ontologia privilegiam a unificação do fundamento sobre todas as diferenças que não só persistem sem síntese, mas também repelem a redução a uma origem comum. Esta maneira de descrever o ser humano privilegia o Mesmo sobre o Outro e assim o Dasein de Heidegger deixa o escaninho da ética tal qual Levinas o concebe. Isto aparece presente no Conceito de Tempo (1992) em Heidegger e noutras obras suas sobre: A fenomenologia hegeliana do espírito (1988), no Tratado de Schelling sobre a essência da Liberdade Humana (1985), N’Os fundamentos metafísicos da Lógica (1984), n’A Questão a respeito da tecnologia e outros ensaios, em No caminho para a linguagem (1971), em O que se chama pensar? (1968), Sobre Tempo e Ser (1972), no Seminário de Heraclito (1993), no Parménides (1992), na Ontologia – a Hermenêutica da Facticidade (1999), etc.
Para o que aqui interessa Heidegger caracteriza o ser do ser humano em termos de cuidado (Sorge) o que é em si e que sempre retorna a si. Mesmo a interpretação heideggeriana da socialidade como ser-com-a-outra-pessoa (Miteinandersein) permanece ultimamente sobre o cuidado do Dasein sobre o si-mesmo. “Somente porque o Dasein é primariamente determinado pela egoidade (Egoität]”, diz Heidegger, “pode facticamente existir como um Tu e para o outro Dasein”. Ora o termo egoidade não é mesmo que egoísmo. Significa no espírito de Heidegger uma base ontológica de ambos (altruísmo e egoísmo). Ora essa base de egoidade parece adoptar uma diferença chocante para as implicações éticas das várias vias que o Dasein pode comprtar em si mesmo a respeito dos outros. Para ser claro e preciso: ficamos com a impressão que a selvajaria e a amabilidade estão num igual pé para Heidegger. Levinas alude sucintamente a esta sua diferença face a Heidegger em que traça o seu rumo em muitas entrevistas: “ eu não suponho que ele pense que dar, alimentar os que têm fome, vestir os desnudados seja o significado do ser ou que esteja sobre a tarefa do ser”(1998:116).
Procura assim Levinas exibir como ética, o fenómeno do cuidar da outra pessoa que ultrapassa o ser e a unidade extática do Dasein por ele mesmo, que é “ser de outramente”, num modo que é mais radical do que o platónico epekeina tés ousias (Levinas 1996: 114-15). Mais tarde Platão no livro VI da República designa o bem como aquilo que transcende [ousias (o ser)] em dignidade e em poder definitivo. (Platão: The Collected Dialogues, PUP, 1961:744). A metáfora do Sol brilhante em Platão é uma dilucidação do significado do bem e indica de potência que garante aos humanos a possibilidade de ver e conhecer o que é, que Platão interpreta como a presença estável daquilo que revela em si mesmo a razão da ideia dentre o fluxo de não-ser que continuamente bombardeia os sentidos.
Essa é a grande responsabilidade da ética. Não somente somos afectados na nossa mesma vida, mas as nossas acções e palavras tocam a vida dos outros. Há um dito de B. Shem Tov que refere que nem um floco de neve na avalanche se sente responsável. A K. urge que cada um seja o primeiro se necessário. Asseguremo-nos mais nos seguirão. BST enuncia: “Quando as pessoas vêem ou fazem mal, elas devem saber e entender, sem sombra de dúvida, que elas têm algo da natureza má dentro de si. Em ordem a que a pessoa que cometeu a má acção se corrija a si, a pessoa que testemunhou o seu mau comportamento ou rumor deve primeiramente fazer a sua correcção”. Tudo isso entre a atzilut (emanação) e a chessed (bondade, amor), entre a chochma (dom, conhecimento cognitivo) e a binah, (o entendimento intuitivo)…isso é o Homem. Desvelemos muito levemente a Chochmah: uma das características das sefirot intelectuais, próximo da fonte do puro ein sof, muitas vezes aludido por filósofos judeus Y Luria, Y L’Aveugle, Yeshayia Horowitz, J. Frank, Pereira S. (Bruno), Rabi, N. HaKna, J. Caro, E. Levinas, etc... Os humanos são feitos à imagem humana, assim cada aspecto do Divino está também espelhado em cada aspecto da nossa sensividade espiritual. Como pela via sensível evidenciamos e percebemos a canção ou o louvor neste Tsur Mishelo: …pensando na rosa que enflorece hoje no mês de Maio/ a minha alma se escurece como trespassada por uma espada…
Presidente Kehillah Or Ahayim
Eli Eliahu anvi ar’ena Eli Eliahu por estas casas vengas
Bo irdom ikhvod, Nefech yétivo, Lo chahav libo, Gam lo raa chéna
Ao contrário da maior parte dos filósofos do Ocidente a filosofia levinasiana diverge, dos termos fundamento e origem que estão associados e constituíram uma espécie de prisão. O pensamento cárcere que existe na linguagem do ser e do conhecimento; um discurso dos entes que os mostra como presentes, e um discurso do que é e pode ser conhecido acerca deles. Não despreza tal discurso, considera-o mesmo indispensável à justiça mas considera-o inadequado à tarefa de desvelar o momento da ética. O momento ético, escreve Levinas, “não está fundado na estrutura preliminar do pensamento teorético, na linguagem ou em qualquer linguagem particular” (Levinas 1996:148). Como ele mesmo reconhece, Levinas deve muito ao pensamento da juventude de Heidegger, especialmente Ser e Tempo que Levinas considera um dos maiores livros da história da Filosofia (1988:225). Mas como sabemos quer Heidegger que os outros filósofos da ontologia privilegiam a unificação do fundamento sobre todas as diferenças que não só persistem sem síntese, mas também repelem a redução a uma origem comum. Esta maneira de descrever o ser humano privilegia o Mesmo sobre o Outro e assim o Dasein de Heidegger deixa o escaninho da ética tal qual Levinas o concebe. Isto aparece presente no Conceito de Tempo (1992) em Heidegger e noutras obras suas sobre: A fenomenologia hegeliana do espírito (1988), no Tratado de Schelling sobre a essência da Liberdade Humana (1985), N’Os fundamentos metafísicos da Lógica (1984), n’A Questão a respeito da tecnologia e outros ensaios, em No caminho para a linguagem (1971), em O que se chama pensar? (1968), Sobre Tempo e Ser (1972), no Seminário de Heraclito (1993), no Parménides (1992), na Ontologia – a Hermenêutica da Facticidade (1999), etc.
Para o que aqui interessa Heidegger caracteriza o ser do ser humano em termos de cuidado (Sorge) o que é em si e que sempre retorna a si. Mesmo a interpretação heideggeriana da socialidade como ser-com-a-outra-pessoa (Miteinandersein) permanece ultimamente sobre o cuidado do Dasein sobre o si-mesmo. “Somente porque o Dasein é primariamente determinado pela egoidade (Egoität]”, diz Heidegger, “pode facticamente existir como um Tu e para o outro Dasein”. Ora o termo egoidade não é mesmo que egoísmo. Significa no espírito de Heidegger uma base ontológica de ambos (altruísmo e egoísmo). Ora essa base de egoidade parece adoptar uma diferença chocante para as implicações éticas das várias vias que o Dasein pode comprtar em si mesmo a respeito dos outros. Para ser claro e preciso: ficamos com a impressão que a selvajaria e a amabilidade estão num igual pé para Heidegger. Levinas alude sucintamente a esta sua diferença face a Heidegger em que traça o seu rumo em muitas entrevistas: “ eu não suponho que ele pense que dar, alimentar os que têm fome, vestir os desnudados seja o significado do ser ou que esteja sobre a tarefa do ser”(1998:116).
Procura assim Levinas exibir como ética, o fenómeno do cuidar da outra pessoa que ultrapassa o ser e a unidade extática do Dasein por ele mesmo, que é “ser de outramente”, num modo que é mais radical do que o platónico epekeina tés ousias (Levinas 1996: 114-15). Mais tarde Platão no livro VI da República designa o bem como aquilo que transcende [ousias (o ser)] em dignidade e em poder definitivo. (Platão: The Collected Dialogues, PUP, 1961:744). A metáfora do Sol brilhante em Platão é uma dilucidação do significado do bem e indica de potência que garante aos humanos a possibilidade de ver e conhecer o que é, que Platão interpreta como a presença estável daquilo que revela em si mesmo a razão da ideia dentre o fluxo de não-ser que continuamente bombardeia os sentidos.
Essa é a grande responsabilidade da ética. Não somente somos afectados na nossa mesma vida, mas as nossas acções e palavras tocam a vida dos outros. Há um dito de B. Shem Tov que refere que nem um floco de neve na avalanche se sente responsável. A K. urge que cada um seja o primeiro se necessário. Asseguremo-nos mais nos seguirão. BST enuncia: “Quando as pessoas vêem ou fazem mal, elas devem saber e entender, sem sombra de dúvida, que elas têm algo da natureza má dentro de si. Em ordem a que a pessoa que cometeu a má acção se corrija a si, a pessoa que testemunhou o seu mau comportamento ou rumor deve primeiramente fazer a sua correcção”. Tudo isso entre a atzilut (emanação) e a chessed (bondade, amor), entre a chochma (dom, conhecimento cognitivo) e a binah, (o entendimento intuitivo)…isso é o Homem. Desvelemos muito levemente a Chochmah: uma das características das sefirot intelectuais, próximo da fonte do puro ein sof, muitas vezes aludido por filósofos judeus Y Luria, Y L’Aveugle, Yeshayia Horowitz, J. Frank, Pereira S. (Bruno), Rabi, N. HaKna, J. Caro, E. Levinas, etc... Os humanos são feitos à imagem humana, assim cada aspecto do Divino está também espelhado em cada aspecto da nossa sensividade espiritual. Como pela via sensível evidenciamos e percebemos a canção ou o louvor neste Tsur Mishelo: …pensando na rosa que enflorece hoje no mês de Maio/ a minha alma se escurece como trespassada por uma espada…
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