Wednesday, May 16, 2007
A Cabala revivida – I
(Compreender)
Andre Moshe Pereira
Presidente Koah
Centro Baruch Spinoza
1. Começamos por não forçar a compreensão do leitor e de não o inebriar de conhecimentos de algo mental e estritamente comunitário que está longe de se referir a alguém em particular dentro de quatro paredes mas assumido na diáspora um pouco por toda a Sefarad. Em especial vivo por círculos, pela comunidade judaica peninsular, lembremos nomes como Samuel heHasid, Moses Cordovero, Abraham Abulafia , Moses de Leon, Nachmanides, Ariel de Gerona, Isaac Luria , Joseph Caro, Chayyim (Chaim) Vital.
2. O que posso compreender, como compreendo a Cabala (Kabbalah)? Devemo-nos esforçar por compreender os acontecimentos pelo sobrevir dos acontecimentos.Lembro a definição de – compreender – deste quadro mental num distinto professor português Jorge C. Rivera (T. do Novo) da Universidade de Évora: “Os modos intencionais: a atenção, a expectação, a memória, a reflexão, pelos quais há consciência da temporalidade, supõem a mútua implicação dos modos de acontecer, a identidade e a singularidade de acontecer, como modos de determinação dos acontecimentos. Não há anterioridade de um qualquer dos modos de acontecer; a compreensão da temporalidade dos acontecimentos em todos os seus momentos supõe a compreensão dos dois modos temporais de acontecer:1. Os acontecimentos acontecem pelo modo idêntico de acontecer e são compresentes, anteriores, posteriores.2. Os acontecimentos acontecem pelo modo singular de acontecer: o acontecer de cada acontecimento é irredutível ao acontecer dos outros acontecimentos; e cada acontecimento possui um determinado modo de compresença, anterioridade e posterioridade aos outros acontecimentos”.
3. O termo hebraico Kabbalah significa recepção ou aquilo que é e “tem sido recebido”.Por um lado a Kabbalah refere-se à tradição, dom antigo recebido e entesourado a partir dum dado passado. Por outro lado, apresenta-se como verdadeiramente receptivo, é um dom que aparece espontaneamente, sem precedentes, tomando-nos de surpresa.A tradição do judaísmo místico combina, na verdade ambos destes elementos na sua primigeneidade. O seu vocabulário liga-se com o que o Zohar – o texto canónico da Kabbalah – chama as novas-velhas palavras. Alguém o denomina como evangelho místico: O Rei e a sua beldade (Zohar); O significado da Torá e os Mandamentos (Zohar).Muitas das suas formulações derivam de fontes tradicionais, a Bíblia hebraica e a literatura rabínica com alguma variação ou distorção. Por exemplo o mundo “que há-de vir” uma frase tradicional muitas vezes compreendida como referida a uma era messiânica muito rara ou distante, volve-se em “o mundo que está constantemente a chegar”, que constantemente flui, uma dimensão intemporal da realidade disponível aqui e agora, se nos encontramos receptivos. O conceito rabínico de Shekhinah (presença feminina), divina imanência floresce na metade feminina de D-us, desequilibrando a forma patriarcal que domina a Bíblia e o Talmude.A Kabbalah retém a disciplina tradicional da Torá e os mitsvoth (os mandamentos), mas a partir de agora os mitsvoth têm um impacto cósmico. “O segredo do cumprimento das mitsvoth é a restauração de todos os mundos e a reprodução para o mundo da emanação que vem do alto”. (Cf. Moisés de Leão The Book of Pomegranate, Sefer ha-Rimmon, Ed. Elliot R. Wolfson (Atlanta, Scholars Press, 1988).
4. De acordo com a Kabbalah toda a acção humana aqui na terra afecta a coroa divina ou promovendo ou adiando a união da Shekhinah e o seu parceiro, o Único Santo, bendito seja. D-us não é um ser estático mas um advir dinâmico. Sem a participação humana, D-us permanece incompleto, não-realizado. Cabe-nos a nós actuar e actualizar o potencial divino no mundo. D-us precisa de nós.A Kabbalah deve o seu sucesso à sua combinatória avançada de tradição e criatividade, lealdade ao passado e inovação intrépida. Os Cabalistas cresceram como adeptos dum perianto entre o deambular entre o fundamentalismo cego e a anarquia mística apesar de um número deles perder o seu equilíbrio e cair ou num extremo ou no outro.Notavelmente apesar das suas ideias inquietantes e por vezes um imaginário deslumbrante, os cabalistas exprimem relativamente uma diminuta oposição ou discrepância entre eles, comparados com alguns dos famosos Sufis Islâmicos e místicos Católicos como respectivamente: Hallaj ou Husayn ibn Mansur al-Hallaj, acusado de heresia, em 922, após declarar “Eu sou a verdade”, ou Mestre Eckhart. Não existe dúvida que isso em parte é devido à metodologia esotérica transmitida pela Kabbalah. (Dan, Joseph, The Early Jewish Mysticism, Tel Aviv: MOD Books, 1993). Ou como diz o Rabino Pinkas Winston na parashá Emor deste nosso B’SD, Shabat último: “é bem sabido da Kabbalah que os Sefirot (emanações espirituais) compreendidas como Luz de D-us, são a base da história. Todo o potencial dum milénio particular está dentro do seu sephirah correspondente, que age como o DNA espiritual daqueles 1000 anos de temporalidade. As festas judaicas são também funções dessa mesma luz, e quando alguém aparece no curso de um ano nesta junção na história, é realmente uma marca previsível duma luz dum diferente período de tempo, um sabor dum nível futuro de espiritualidade, uma experiência do Ohr HaGanuz. É a temporalidade que reside no cerne da luz de ‘naquele dia, em que D-us será um e o seu Nome, Um’”. Em primeiro lugar, na Kabbalah, os ensinamentos secretos são comunicados oralmente do mestre ao discípulo em círculos restritos e pequenos. Mesmo quando colocada por escrito a mensagem é o mais das vezes críptica, concluindo por vezes: “isto é suficiente para aquele que está iluminado” ou “o iluminado perceberá” ou “eu não posso elucidar mais, de acordo com tal isso me está ordenado”.Desde o começo do movimento nos séculos XII e XIII, a Kabbalah foi promovida por rabinos proeminentes conhecedores tais como Rabad de Posquières e Nachmanides. Fortemente comprometidos com a observância tradicional os cabalistas não podiam ser facilmente acusados como radicais. Mas na verdade eram profundamente radicais e tocavam algo profundo na alma humana.
Andre Moshe Pereira
Presidente Koah
Centro Baruch Spinoza
1. Começamos por não forçar a compreensão do leitor e de não o inebriar de conhecimentos de algo mental e estritamente comunitário que está longe de se referir a alguém em particular dentro de quatro paredes mas assumido na diáspora um pouco por toda a Sefarad. Em especial vivo por círculos, pela comunidade judaica peninsular, lembremos nomes como Samuel heHasid, Moses Cordovero, Abraham Abulafia , Moses de Leon, Nachmanides, Ariel de Gerona, Isaac Luria , Joseph Caro, Chayyim (Chaim) Vital.
2. O que posso compreender, como compreendo a Cabala (Kabbalah)? Devemo-nos esforçar por compreender os acontecimentos pelo sobrevir dos acontecimentos.Lembro a definição de – compreender – deste quadro mental num distinto professor português Jorge C. Rivera (T. do Novo) da Universidade de Évora: “Os modos intencionais: a atenção, a expectação, a memória, a reflexão, pelos quais há consciência da temporalidade, supõem a mútua implicação dos modos de acontecer, a identidade e a singularidade de acontecer, como modos de determinação dos acontecimentos. Não há anterioridade de um qualquer dos modos de acontecer; a compreensão da temporalidade dos acontecimentos em todos os seus momentos supõe a compreensão dos dois modos temporais de acontecer:1. Os acontecimentos acontecem pelo modo idêntico de acontecer e são compresentes, anteriores, posteriores.2. Os acontecimentos acontecem pelo modo singular de acontecer: o acontecer de cada acontecimento é irredutível ao acontecer dos outros acontecimentos; e cada acontecimento possui um determinado modo de compresença, anterioridade e posterioridade aos outros acontecimentos”.
3. O termo hebraico Kabbalah significa recepção ou aquilo que é e “tem sido recebido”.Por um lado a Kabbalah refere-se à tradição, dom antigo recebido e entesourado a partir dum dado passado. Por outro lado, apresenta-se como verdadeiramente receptivo, é um dom que aparece espontaneamente, sem precedentes, tomando-nos de surpresa.A tradição do judaísmo místico combina, na verdade ambos destes elementos na sua primigeneidade. O seu vocabulário liga-se com o que o Zohar – o texto canónico da Kabbalah – chama as novas-velhas palavras. Alguém o denomina como evangelho místico: O Rei e a sua beldade (Zohar); O significado da Torá e os Mandamentos (Zohar).Muitas das suas formulações derivam de fontes tradicionais, a Bíblia hebraica e a literatura rabínica com alguma variação ou distorção. Por exemplo o mundo “que há-de vir” uma frase tradicional muitas vezes compreendida como referida a uma era messiânica muito rara ou distante, volve-se em “o mundo que está constantemente a chegar”, que constantemente flui, uma dimensão intemporal da realidade disponível aqui e agora, se nos encontramos receptivos. O conceito rabínico de Shekhinah (presença feminina), divina imanência floresce na metade feminina de D-us, desequilibrando a forma patriarcal que domina a Bíblia e o Talmude.A Kabbalah retém a disciplina tradicional da Torá e os mitsvoth (os mandamentos), mas a partir de agora os mitsvoth têm um impacto cósmico. “O segredo do cumprimento das mitsvoth é a restauração de todos os mundos e a reprodução para o mundo da emanação que vem do alto”. (Cf. Moisés de Leão The Book of Pomegranate, Sefer ha-Rimmon, Ed. Elliot R. Wolfson (Atlanta, Scholars Press, 1988).
4. De acordo com a Kabbalah toda a acção humana aqui na terra afecta a coroa divina ou promovendo ou adiando a união da Shekhinah e o seu parceiro, o Único Santo, bendito seja. D-us não é um ser estático mas um advir dinâmico. Sem a participação humana, D-us permanece incompleto, não-realizado. Cabe-nos a nós actuar e actualizar o potencial divino no mundo. D-us precisa de nós.A Kabbalah deve o seu sucesso à sua combinatória avançada de tradição e criatividade, lealdade ao passado e inovação intrépida. Os Cabalistas cresceram como adeptos dum perianto entre o deambular entre o fundamentalismo cego e a anarquia mística apesar de um número deles perder o seu equilíbrio e cair ou num extremo ou no outro.Notavelmente apesar das suas ideias inquietantes e por vezes um imaginário deslumbrante, os cabalistas exprimem relativamente uma diminuta oposição ou discrepância entre eles, comparados com alguns dos famosos Sufis Islâmicos e místicos Católicos como respectivamente: Hallaj ou Husayn ibn Mansur al-Hallaj, acusado de heresia, em 922, após declarar “Eu sou a verdade”, ou Mestre Eckhart. Não existe dúvida que isso em parte é devido à metodologia esotérica transmitida pela Kabbalah. (Dan, Joseph, The Early Jewish Mysticism, Tel Aviv: MOD Books, 1993). Ou como diz o Rabino Pinkas Winston na parashá Emor deste nosso B’SD, Shabat último: “é bem sabido da Kabbalah que os Sefirot (emanações espirituais) compreendidas como Luz de D-us, são a base da história. Todo o potencial dum milénio particular está dentro do seu sephirah correspondente, que age como o DNA espiritual daqueles 1000 anos de temporalidade. As festas judaicas são também funções dessa mesma luz, e quando alguém aparece no curso de um ano nesta junção na história, é realmente uma marca previsível duma luz dum diferente período de tempo, um sabor dum nível futuro de espiritualidade, uma experiência do Ohr HaGanuz. É a temporalidade que reside no cerne da luz de ‘naquele dia, em que D-us será um e o seu Nome, Um’”. Em primeiro lugar, na Kabbalah, os ensinamentos secretos são comunicados oralmente do mestre ao discípulo em círculos restritos e pequenos. Mesmo quando colocada por escrito a mensagem é o mais das vezes críptica, concluindo por vezes: “isto é suficiente para aquele que está iluminado” ou “o iluminado perceberá” ou “eu não posso elucidar mais, de acordo com tal isso me está ordenado”.Desde o começo do movimento nos séculos XII e XIII, a Kabbalah foi promovida por rabinos proeminentes conhecedores tais como Rabad de Posquières e Nachmanides. Fortemente comprometidos com a observância tradicional os cabalistas não podiam ser facilmente acusados como radicais. Mas na verdade eram profundamente radicais e tocavam algo profundo na alma humana.