Friday, March 16, 2007

O isso e eu - outro

André Veríssimo*
Presidente Koah, Dir CEIMOM


Ocorreu-lhe falar de – Isso? E por vezes (muitas vezes) pensar que é um Sujeito, e não uma Coisa?

A consciência é entendida, no sentido comum, como a atenção reflexiva aos próprios modos de ser, perceber e agir. Ela constitui a “experiência subjectiva do eu interior” (Chalmers Chalmers, D. J. 2004. “O enigma da consciência.” Scientific American, Edição Especial: Segredos da Mente, nº 4: 40).

1. ISSO PENSA: a noção de sistema não é completamente nova. Os economistas do século XIX utilizavam-no sem o saber quando tentavam rotular um paradigma geral de economia dando conta das relações entre a oferta, a procura, a moeda, o capital…; e Karl Marx também quando procurava por em relação numa visão global da sociedade as infraestruturas económicas e as superestruturas políticas, sociais e ideológicas. O pai da cibernética é Norbert Wiener, matemático do M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology), (Cf. N. Wiener, Cybernétique et société, Paris, U.G.E. (para e edição francesa)). “Em 1940, trabalhava com um jovem na afinação de aparelhos de pilotagem automática para canhões antiaéreos. Descobriram então que tais servomecanismos apresentavam certas analogias assombrosas com o funcionamento do sistema nervoso; eles demonstram nomeadamente que, para controlar uma acção orientada para um termo (como a D.C.A.), a circulação das informações necessárias deve formar um «círculo» fechado no qual a máquina avalia dos efeitos das suas acções e corrige o comportamento futuro utilizando os desempenhos passados; o processo é designado pela noção de feed-back (ou retroacção). Desde logo, a via cibernética consiste em aplicar a todos os domínios de conduta e de gestão de organismos complexos os modelos nascidos do encontro entre a mecânica e a biologia. É fundado um seminário onde se reúnem matemáticos, neurofisiólogos e engenheiros electrónicos. Paulatinamente constituíram-se as bases duma linguagem comum (aprendizagem, memória, regulação, retroacção, homeostasia, etc.). Ao mesmo tempo, esta nova via estende-se a outras disciplinas como a economia, a gestão de empresas, a sociologia ou a antropologia; neste último domínio, Margaret Mead e Gregory Bateson mostram-se muito interessados pelas pesquisas de Wiener e esforçam-se em as aplicar à compreensão dos processos culturais”. Assim exprimem os teóricos Edmond Marc e Dominique Picard em L’Ecole de Palo Alto - Un Nouveau regard sur les relations humaines, Edição Retz, Paris. A noção de sistema é uma noção muito geral que tem sido objecto de numerosas definições. A mais corrente é a de «um conjunto de elementos em interacção tal que uma modificação de um deles implica a modificação de todos os outros». Vê-se que se trata de uma modificação extremamente lata e que pode aplicar-se praticamente a todo o fenómeno. Dizem Marc e Picard: “a célula de um organismo vivo pode ser considerada como um sistema; ela constitui uma totalidade que obedece a regras precisas; mantém a sua organização interna a despeito dos fluxos de energia e dos materiais que a atravessam. Para assegurar a permanência da sua estrutura e das suas funções, ela exige agentes de transformação, as enzimas, que são catalisadores que controlam a actividade celular, e dos ácidos nucleicos e centralizam as informações necessárias à reunião das proteínas e das enzimas e à reprodução da célula. Ela comporta assim as moléculas-sinais que permitem as comunicações. Uma membrana assegura a filtragem da comunicação com o exterior e controla entradas e as saídas da energia de informação. O controlo último da actividade celular passa pela síntese das enzimas realizada a partir dos modelos contidos no núcleo.” (Id.,Ib.). O microcosmos biológico está auto-organizado de forma eficiente e modelar.

2. EU-OUTRO: Se nós vivêssemos infinitamente não haveria nenhum interesse em maximizar os lucros, o conservar o tempo, organizá-lo eficientemente, etc. O si-mesmo, o self ou o ipsum necessita assim encontrar o seu lugar na vida, face à morte. É não somente certa a morte para o si-mesmo, mas também para o outro. Ao mesmo tempo, a morte não é algo que nós contemplamos sempre realmente mas que remanesce sempre em lugar remoto e destacado. Este fundo do tempo finito e de morte determinada é uma característica compartilhada da filosofia francesa de Montaigne (1910) a Levinas (1983). As obrigações morais vêm a ser porque nós nos defrontamos connosco e o outro na finitude (Weil 1998). Não são parte de uma escolha livre mas de constantes antropológicas. Isto é importante manter-se na mente enquanto nós encadeemos a ênfase do interpretativismo fenomenológico para compreender o outro com a obrigação de o considerar nas implicações das relações éticas. A ética está proporcionada pelo desejo teleológico por uma vida boa. Isto é baseado na compreensão aristotélica da ética e enfatiza a importância da teleologia como a base do pensar ético. A primeira etapa é pensar sobre normas e a construção da cooperação que devem sempre ser uma definição das nossas ideias individuais e colectivas de uma vida boa. A segunda etapa é o estudo em concreto da representação dos deveres e as obrigações que nos cercam. A moralidade é representada melhor por uma deontologia de prisma Kantiano, pela tentativa de encontrar as normas ou as máximas que são universalizáveis. Os aspectos normativos estão ligados proximamente como base hermenêutica e fenomenológica da filosofia de Emmanuel Levinas e particularmente com o conceito de outro. Outras figuras fortemente presentes na sua caracterização breve da ética como apontando para a vida boa, com e para os outros, em instituições justas (Ricœur, 1990). [Os níveis diferentes do raciocínio ético estão ligados também aos outros, por exemplo, às nossas comunidades de origem criptojudaica ou judaica com reconhecimento Halachico...]. A razão é que não estamos sozinhos e que mesmo uma noção compartilhada da vida boa nos não manterá seguros. A fim evitar e superar a violência nós necessitamos da transição da ideia teleológica da vida boa para regras e obrigações deontológicas. A ideia da violência é onde, a concepção de Levinas do outro, se incorpora no jogo, outra vez. As considerações éticas não podem ser limitadas ao si-mesmo e ao outro, mas há também o “terceiro” (Malka, 1984; Levinas, 1984). O terceiro é também alguém, outro, mas é distinto do outro como é apresentado acima pelo facto que não interage com o si-mesmo mas com o outro. Se o outro cometer a violência ao terceiro, o si-mesmo, pode ter a obrigação ética de intervir. Uma outra aproximação ao relacionamento da ética/moralidade e do outro é o conceito da responsabilidade. A etimologia do termo sugere que a responsabilidade está ligada de forma muito próxima à resposta, é a “resposta”. Isto significa que o outro é de importância constitutiva para a responsabilidade. A responsabilidade está ligada a todos os três dos níveis normativos. É baseada numa vista compartilhada da vida boa e permite a consideração das ocorrências futuras. A pesquisa de Fenomenologia Interpretativa reivindica frequentemente ser baseada em, ou usar pensamentos fenomenológicos, ao ponto em que Galliers (1991) iguala os dois. Fenomenologia como um termo é um tanto ambígua. Pode respeitar às descrições gerais da primeira-pessoa da experiência humana ou pode referir-se à aproximação filosófica desenvolvida por Husserl e estendida por outros autores como Heidegger ou Merleau-Ponty (Beavers, 2002). O alvo da fenomenologia era superar a inacessibilidade percebida da filosofia estabelecida e ir atrás das coisas mesmas e descobrir as suas essências. A fenomenologia assim tem que ver com a automanifestação (Moran, 2000). Para Heidegger (1993) a fenomenologia é a ciência do ser dos essentes (Wissenschaft vom Sein des Seienden) e parte assim da ontologia. Apesar do uso dos termos tais como a “essência”, as “coisas elas mesmas”, ou a “ontologia”, a fenomenologia não trata duma realidade objectiva, similar ao realismo. Antes, o ponto do começar da fenomenologia é tal que os fenómenos, as manifestações das nossas percepções, são resultados de actos conscienciosos e dados não independentemente. A razão porque temos um mundo é a de que a nossa consciência o abre até nós, o faz significante e o divulga.