Friday, April 28, 2006

Coisas Gerais e nossas

André Veríssimo, PR. KoaH

1. Na primeira vaga a componente de riqueza era predominantemente agrária. Os meios de produção de riqueza eram, portanto, a terra, alguns implementos agrícolas (a tecnologia incipiente da época), as sementes, e o trabalho do ser humano (e de animais), que fornecia toda a energia que era necessária para o processo produtivo. Do ser humano esperava-se apenas que tivesse um mínimo de conhecimento sobre quando e como plantar e colher e a força física para trabalhar. Todavia esse ritmo arqueotecnológico ainda subsiste. Essa forma de produção de riquezas trouxe profundas transformações sociais, culturais, políticas, filosóficas, institucionais, etc., em relação ao que existia na civilização que a precedeu (civilização nomádica). Na segunda vaga, a forma de criar riqueza passou a ser a manufactura indústrial e o comércio de bens. Os meios de produção de riqueza se alteraram. A terra deixou de ser tão importante, mas, por outro lado, prédios (fábricas), equipamentos, energia para tocar os equipamentos, matéria-prima, o trabalho do ser humano, e, naturalmente o capital (dada a necessidade de grandes investimentos iniciais) passaram a assumir um papel essencial enquanto meios de produção. Dos agentes sociais esperou-se que pudessem entender ordens e instruções e que cumprissem com efectividade a ordem dos códigos, tempos e actividades previstos. Essa nova forma de produção de riquezas também trouxe profundas transformações sociais, culturais, políticas, epistemológicas, críticas, estéticas, jurídicas, etc., em relação ao que existia na civilização anterior.

Na terceira vaga, a principal inovação está no facto de que o conhecimento passou a ser, não um meio adicional de produção de riquezas, mas, sim, o meio dominante. Na medida em que ele está omnipresente, é possível reduzir a participação de todos os outros meios no processo de produção. O conhecimento é o substituto último de todos os outros meios de produção. O conhecimento e a comunicação na estratégia militar tornou-se o ingrediente indispensável de armamentos inteligentes, que são programáveis para atingir alvos específicos e seleccionados.
As distinções entre a racionalidade e a a-racionalidade, a racionalidade e a não-não-racionalidade, entre a racionalidade e a irracionalidade na crença e nas acções são hoje as mais importantes para a maioria dos seres da sociedade da informação. Por exemplo a decisão para aceitar uma proposição racional se houver as razões adequadas para sua aceitação e essa decisão estiver feita na base daquelas razões. A matemática e a lógica fornecem exemplos do paradigma de decisões racionais. Algumas outras distinções podem ainda ser adicionadas. Desde que os conceitos usados nas distinções acima feitas que não admitem graus, como a opinião, e têm desse modo de classificar o carácter no contraste às noções tipológicas vagas.
Na civilização da terceira vaga, as coisas mais importantes numa empresa ou uma organização são intangíveis.

A estrutura familiar é hoje pluridiversificada.

A civilização da sociedade da informação é esta e este é o seu rosto. A razão está no facto de que os sistemas sociais, isto é, a sociedade, se desmassificou, e, consequentemente, se complexificou, a tal ponto que, hoje, é impossível geri-la sem informação e sem tecnologia da informação (computadores e telecomunicações). Nicholas Negroponte um dos gurus desta sociedade da informação diz-nos que: o futuro será “totalmente wireless, completamente wireless! Os nossos netos vão ficar horrorizados quando souberem que utilizamos fios para usar o nosso computador. E não falo apenas dos fios de conexão. É um absurdo utilizarmos fios para energia eléctrica, também. Isso vai acabar.”

O agenda-setting promove uma insurrecção do real e gere os modos sobre o qual pensamos e isso muda de forma dramática e não meramente sugestiva o reequacionamento normativo dos valores objectivos.

Como refere Tuchman num estudo sobre produção das notícias, também estas se «apoiam e, simultaneamente, reproduzem as estruturas institucionais […] as notícias são realizações artificiais produzidas de acordo com padrões particulares de compreensão da realidade social. Estes padrões constituídos como práticas e processos específicos de trabalho legitimam o status quo e, nessa medida, as notícias tornam a realidade social opaca em vez de a revelarem» (Tuchman, 1980). Certas técnicas servem apenas para iludir, como é o caso do «directo», onde «são dissimuladas as questões da selecção e do tratamento da informação, da construção do real a partir de factos e opiniões, escolhidas e disponibilizadas sob a forma de texto, sons ou imagens». (...) Os mass media têm uma enorme influência sobre a agenda pública. Este poder ficou conhecido como agenda setting, ou seja, a capacidade que os media têm de decidir, não o que as pessoas devem pensar, mas sobre que assuntos devem pensar. Este sistema de prioridades sociais que o público toma como suas pode, assim, ser conduzido e controlado. Mas, de um modo geral, a pesquisa sobre este tema revelou-se incapaz de equacionar as implicações políticas de tal poder dos media — o processo de agenda setting não é politicamente inócuo. ( Apud, «Análise Social», Número 174, Volume LX, 2005, João Pissarra Esteves, Espaço Público e Democracia, Comunicação, Processos de Sentido e Identidades Sociais, Lisboa, Edições Colibri, 2003).

Temos que compreender os veículos de indícios de uma nova civilização que nem sempre será bem-vinda.

2. Memória nossa de Iehudim: Comemoramos os nossos antepassados na antiga sinagoga do Porto: Saúdo todos os nossos irmãos marranos especialmente os Kol Anussim e seu Coordenador -- aqui fica a nossa passagem dum extracto de Damião de Góis – Crónica do Felicíssimo Rei D. Emanuel... e a certeza de que me emocionei ao acender umas velas na Kadoorie pela alma dos meus avós transmontanos e também na celebração do Kaddish em Bairro da Velha JUDIARIA no Porto “Antes que el Rei fosse de Lisboa para Almeirim, ordenou Tristão da Cunha à Índia por capitão de uma armada, da qual, e do que nesta viagem se fez se dirá adiante, no ano de mil quinhentos e oito, em que tornou. Pelo que nestes dois capítulos, que são já derradeiros desta primeira parte tratarei de um tumulto, e levantamento, que aos dezanove dias de Abril, deste ano de mil quinhentos e seis, em Domingo de Pascoela fez em Lisboa contra os cristãos-novos, que foi pela maneira seguinte. No mosteiro de São Domingos da dita cidade estava uma capela a que chamava de Jesus, e nela um crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que davam cor de milagre, com quanto os que na igreja se acharam julgavam ser o contrário dos quais um cristão-novo disse que lhe parecia uma candeia acesa que estava posta no lado da imagem de Jesus, o que ouvindo alguns homens baixos o tiraram pelos cabelos de arrasto para fora da igreja, e o mataram, e queimaram logo o corpo no Rossio. Ao qual alvoroço acudiu muito povo, a quem um frade fez uma pregação convocando-os contra os cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro, com um crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia, o que imprimiu tanto em muita gente estrangeira, popular, marinheiros de naus, que então vieram da Holanda, Zelândia, e outras partes, ali homens da terra, da mesma condição, e pouca qualidade, que juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, e os corpos mortos, e os meio vivos lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rossio a qual negócio lhes serviam escravos e moços que com muita diligência acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo, no qual Domingo de Pascoela mataram mais de quinhentas pessoas....”.