TODOS OS MEUS DIAS SÃO LINDOS
Daqui por muitos anos
só espero
que ao saudarem-me
me desejem
que tenha um lindo
passado.
Porque todos os meus dias
são lindos.
Como os de quem morre depois da guerra.
A vida foi a melhor forma
que a natureza encontrou
para unir
o meu nascimento
à minha morte.
É a distância
que serve para me juntar
a mim mesmo.
Que interressa o fim
se não é final de nada.
Por isso, quero que
todas as flores dos campos
sejam para o meu futuro.
O verde dos prados,
o chilrear dos pássaros.
Os campos, os prados e os pássaros
foram sempre do meu tempo,
e fizeram-me concluir
que o único órgão
do meu corpo
que não pára de crescer
é o coração.
Se a qualidade
e a verdade vêm sempre ao-de-cima
será o último suspiro
de um homem
afinal
o seu melhor suspiro?
A última visão
a melhor paisagem?
Um homem só se pertence
se for ele mesmo
quem se vence...
Eu sou o somatório
de derrotas e vitórias,
as minhas e as de quem amo.
Dizer isto é imenso.
Mesmo que o som
da Física
tenha sempre a mesma velocidade,
e nenhuma das palavras
ditas ao mesmo tempo
chegue ao infinito
antes da outra.
Os pássaros não voam,
lutam,
só eu os vejo voar.
E isso fascina-me
porque não voo,
senão, nem isso me
fascinava.
Só a felicidade de ser feliz.
Até os sinos que nem crêem em ninguém,
como a alma mais piedosa,
quando tocam
chegam ao céu.
Manuel Barreiro—in Poemas Barrosões