Sunday, March 29, 2009

Três décadas de paz entre Israel e o Egipto


Três décadas de paz entre Israel e o Egipto

28.03.2009, 

Ehud Gol*

Os tratados com o Egipto e a Jordânia são a melhor prova de que a paz é possível

Celebrou-se no dia 26 de Março o aniversário do primeiro tratado de paz entre Israel e um país árabe. Há trinta anos, o primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, o Presidente egípcio Anwar El Sadat e o Presidente americano Jimmy Carter assinaram um acordo que prometia mudar o Médio Oriente.
Apesar de essa promessa não ter sido cumprida na sua totalidade, este aniversário constitui uma oportunidade para honrar este acontecimento histórico, bem como para analisar alguns dos princípios básicos que levaram ao sucesso daquele difícil processo de negociação. É assim importante relembrar as lições do passado.
Os esforços de Israel para fazer a paz precederam não apenas as negociações com o Egipto mas também o estabelecimento do Estado de Israel. O tratado assinado com o Egipto materializou o desejo de Israel tomar medidas para a paz, apesar dos aparentes riscos de segurança. Ao devolver a península do Sinai, Israel estava a abdicar de uma península três vezes maior do que a sua área total. Perdeu ainda o controlo directo sobre as linhas marítimas para Eilat, fábricas, empresas, hotéis e comunidades agrícolas. 
O poço de petróleo descoberto e explorado por Israel foi entregue também ao Egipto, abandonando assim a única hipótese de Israel de se tornar independente em termos energéticos. Mais significativo ainda, Israel desenraizou 7000 civis que tinham feito do Sinai a sua casa (incluindo a cidade de Yamit) demonstrando, assim, a sua vontade de evacuar os seus cidadãos de áreas sob disputa, em nome da paz.
Hoje existe a mesma esperança, mas experiências amargas tornaram o povo israelita mais cauteloso. Em 2000, nas negociações de Camp David, os palestinianos tiveram oportunidade para terminar o conflito, mas Arafat recusou as propostas sem precedentes e lançou a Segunda Intifada, que custou a vida a milhares de palestinianos e israelitas. Nesse mesmo ano, Israel retirou completamente do Líbano para, em 2006, receber em troca 4000 mísseis do Hezbollah disparados contra as cidades do Norte de Israel.
Em 2005, Israel retirou unilateralmente de Gaza desenraizando novamente milhares de israelitas das suas casas. Israel esperava que este passo desse aos palestinianos uma oportunidade para criarem pacificamente as fundações de um Estado. Em vez disso, assistimos à escalada do extremismo do Hamas e ao aumento dos disparos de rockets e morteiros contra as comunidades do Sul de Israel.
Sadat arriscou a sua vida ao tornar-se o primeiro líder árabe a reconhecer Israel. Mas Israel teve também líderes corajosos. Yitzhak Rabin selou o primeiro acordo com os palestinianos, iniciando o processo de Oslo. Também Ariel Sharon demonstrou o seu empenho na paz ao iniciar a retirada de Gaza.
Israel estará sempre disposto a fazer a paz quando o outro lado decidir abandonar a via da violência e adoptar o caminho das negociações e compromisso.

Da mesma forma que Sadat foi assassinado por fundamentalistas islâmicos por fazer a paz com Israel, também os esforços destes fanáticos estão hoje a matar qualquer oportunidade de paz com os palestinianos.
O Hamas, que rejeita qualquer princípio de coexistência e mantém o seu objectivo de destruir Israel, é um dos maiores inimigos da paz. A influência do Hamas não apenas porá fim a qualquer perspectiva de paz como também votará os palestinianos a um futuro de constante conflito dominado pelo fundamentalismo.
Actualmente, Israel e o Egipto partilham as mesmas preocupações no que diz respeito ao aumento do fundamentalismo.
As negociações directas provaram ser a melhor garantia de progresso. Os tratados com o Egipto e a Jordânia são a melhor prova de que, quando os líderes árabes estão dispostos a falar directamente com Israel, a paz é possível.
Os israelitas desejam sinceramente que a paz possa ser alcançada com os palestinianos e outros vizinhos. Apesar das actuais dificuldades, os israelitas sonham que outro líder seu se possa erguer novamente perante o mundo e repetir as palavras do primeiro-ministro Begin na cerimónia de há 30 anos: "Não à guerra, não ao derramamento de sangue, não às mortes, paz para todos, shalom, salaam, para sempre." 

*Embaixador de Israel em Portugal